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Cara indústria de alimentos, este site foi criado para incentivá-la a ser mais criativa e inovadora. Sentada num hostel da China, eu pensei que poderia contribuir com os colegas que trabalham nos P&Ds Brasil afora, matando um leão por dia, e fazendo muito com bem pouco.
Eu sabia que nem todo mundo tinha acesso a 312 equipamentos, em 52 plantas-pilotos, com duas dezenas de colegas trabalhando para desenvolver alimentos nutritivos, saborosos e que enchessem as pessoas de prazer.
Não.
Eu sabia que a maioria dos visionários de alimentos labutava sozinha, sem planta-piloto, quando muito com um espacinho no laboratório da Qualidade para fazer uns experimentos de bancada.
Pensava que, se eu pudesse compartilhar um pouco da minha jornada com estes colegas, talvez nos uníssemos. Talvez desta união formaríamos uma rede de pesquisadores de alimentos que não existia ainda.
Pensava que, se eu pudesse compartilhar o pouco conhecimento técnico que angariei nesses anos trabalhando com P&D, eu poderia ajudar quem havia caído de paraquedas neste processo. Se eu compartilhasse e provocasse e fizesse pensar, quem sabe os colegas ousassem mais, e buscassem soluções mais simples e sofisticadas para os dilemas técnicos que caíam no seu colo.
Porque já havia muita gente falando, de fora, sobre tudo o que você, cara indústria de alimentos, tinha que fazer. Quem sabe de dentro e falando com as pessoas, eu conseguisse ser mais bem-sucedida.
As pessoas são o centro de tudo o que fazemos por aqui. Tanto os profissionais quanto os consumidores de alimentos.
Cara indústria de alimentos, este site não foi criado para lhe atacar. Este site foi criado para ajudá-la – ajudando as pessoas que trabalham aí.
Por tudo isso, eu não consigo acreditar que haja uma mente maquiavélica lhe guiando, cara indústria de alimentos. Não há um Dr Evil manipulando cordões e fazendo com que tudo saia ao seu modo, com o objetivo único de ser mau.
Não, eu sei que não há um Dr Evil por aí. São apenas pessoas.
E eu acredito que não há pessoas naturalmente más. As pessoas são naturalmente boas – apenas fazem coisas más, ou das quais se arrependem, quando colocadas em situações extremas.
Eu fico aqui então pensando que estamos passando por situações extremas.
Talvez o Brasil esteja em guerra civil?
Ou quem sabe o país tenha sofrido um terremoto de dimensões continentais?
Será que perdemos todas as nossas exportações? Será que não temos mais água potável?
Devemos estar passando por situações extremas.
Cara indústria de alimentos, você serve às pessoas, não?
Quem paga o salário de todos são as pessoas que consomem o produto que você faz. Quem paga sua conta da energia e a internet também. “O consumidor é rei” é o que mais se escuta nas suas salas de treinamento.
Aí eu me pego pensando – se o consumidor é rei, então quando ele pede, na verdade manda.
Será?
Parece que algo acontece entre a sua sala de treinamento e o mundo real, então.
Primeiro diretamente, nos SACs e eventos e postagens das mídias sociais. Depois, como você fez ouvidos moucos, aos órgãos regulatórios. Mesmo após pedidos tão enfáticos (que deveriam ter sido seguidos como ordens, não?), você se dispôs a questionar a necessidade desta informação.
À época, o que eu lhe disse? Não perca a oportunidade, cara indústria de alimentos – mas não: você preferiu rotular com “pode conter” a rodo, e se proteger. Nem passou pela sua cabeça que estava perdendo consumidores, não é?
A proteção à infância é ponto pacífico e indiscutível em qualquer mesa de debate do mundo – mesmo assim, você, cara indústria de alimentos, ainda questiona o papel do Estado nesta proteção. Você, cara indústria de alimentos, que deveria estar lado a lado com o consumidor, protegendo aqueles que no futuro serão seus consumidores ou trabalharão em seus quadros (ou ambos).
Mas não: colocou pelo menos 8 processos contra a ANVISA a respeito da RDC 24/10, que regula o tema.
O consumidor quer ver esta informação na frente do rótulo, bem na sua cara. Ele está lhe dizendo: queremos ser capazes de escolher melhor os alimentos mais adequados para nós. Queremos rotulagem nutricional frontal.
E isso não deveria ser nenhum problema para você, cara indústria de alimentos. Afinal, os alimentos que você produz são todos nutritivos, saborosos e enchem as pessoas de prazer.
Ou não?
As pessoas se organizaram e disseram a você, cara indústria de alimentos, o que queriam.
Porém, ao invés de você abraçar este contato, abrir os ouvidos e o coração, e dar ao seu Rei aquilo que ele deseja, não.
Você insiste em fazer as coisas do seu jeito. Você insiste numa queda de braços com o consumidor, que deveria ser o seu Rei. Você usa as pessoas boas que trabalham para você e as faz pensar que o que o consumidor está pedindo é bobagem, falsa ciência, restrição à liberdade de escolha, e outras atrocidades.
O que eu gostaria de ver agora, cara indústria de alimentos, era um debate com base em ciência. Porque na questão rotulagem nutricional frontal, realmente há bastante controvérsia.
Qual é o modelo mais adequado? O semáforo é bom? Um símbolo mais simples é melhor?
Cara indústria de alimentos, você tem tanto poder, tantos recursos à sua disposição: poderia bem fazer pesquisas em solo brazuca, que nos ajudassem a entender como o brasileiro entende o rótulo, como esta aqui ou esta.
Quais são as opções que ajudariam os brasileiros a selecionarem os melhores alimentos?
Coisas como essa, essa, essa, essa, essa, essa, essa, essa, essa, essa, mas aqui, com o nosso público, falando a nossa língua e considerando as nossas necessidades nutricionais como povo. E não só em São Paulo e Recife, não. Uma pesquisa realmente representativa, que entendesse o Brasil como nação, com todas as suas desigualdades, diferenças, anacronismos e dificuldades. Fora das capitais.
Mostrar pesquisa sem conflito de interesses, e pesquisa publicada, em revista científica, de alto impacto, peer-reviewed, é o mínimo que se espera quando o tema é saúde.
Cara indústria de alimentos, semana passada você trouxe um designer para falar sobre o impacto das cores na rotulagem de alimentos – um senhor com 50 anos de profissão, com certeza uma sumidade no seu campo.
No campo de design de embalagem.
E que tinha entrado em contato com o assunto da rotulagem frontal de alimentos há 3 dias.
Tem que elevar o nível da conversa. Senão, o que parece, cara indústria de alimentos, é que você nem se importa. Quem fala por você tem que ter preparo para falar, e não dizer que os refrigerantes devem ser bebidas abarrotadas de açúcar, porque o seu amigo não gostou da reformulação da Sprite.
Quer rebater a ciência? Tem que usar ciência.
É um assunto supercomplexo, cara indústria de alimentos.
Mas não cabe dizer que um símbolo preto assusta o consumidor, sem oferecer evidências científicas de que isso seja verdade. Ou sem entender que assustar, neste caso, talvez seja mesmo a intenção, quando se vê o assunto do ponto de vista de manutenção da saúde.
Afinal, em contrapartida, pode-se dizer do seu modelo, que o semáforo também confunde o consumidor – e há evidências disso (aqui).
Ou seja: não tem resposta fácil, não é?
O que mais me intriga nessa discussão, contudo, cara indústria de alimentos, não é a complexidade da resposta.
Não.
Fazendo queda de braços. Defendendo a si mesma, aos seus Barões dos Alimentos, aos senhores grisalhos e barbudos, ao invés de entrar no Uber Pool junto com a galera e aceitar que precisa mudar.
E mudar o que precisa ser mudado.
Cara indústria de alimentos, assuma sua responsabilidade.
E não use métodos escusos.
Esses dias circulou um questionário coletando informações sobre rótulos. Pensa que eu não vi? Vi sim.
Só não vi quem criou o formulário, porque vinha ele sem identificação nenhuma, sem cabeçalho, sem rodapé, sem nada. Coletando informação que serão usadas com propósito desconhecido.
Cara indústria de alimentos, lá na pergunta 2 você se mostrou:
Nossa, cara indústria de alimentos, eu pensei que você estava acima disso. 2 respostas? Escolhas saudáveis são tão binárias assim?
Se é assim tão fácil, por que já não resolvemos isso? O acesso à informação mais clara é só uma das formas com que estimulamos o consumidor a fazer escolhas saudáveis – e pelas mesmas pesquisas que eu lhe mostrei acima, nem sempre é eficaz. Tem muito mais coisa em jogo, coisa que você, cara indústria, se não tivesse criado um muro entre si e o consumidor, saberia bem.
Você entenderia todas as questões emocionais, culturais, econômicas que se entranham na escolha do que vamos comer para o almoço. A rotulagem nutricional frontal é só mais uma estratégia de manutenção de saúde, entre tantas outras acontecendo ao mesmo tempo.
E as duas respostas possíveis são de inteira responsabilidade do consumidor?
Não tem nada com que você possa contribuir nessas escolhas? Não é você quem dita preço, fórmula, disponibilidade, publicidade? Não é você quem traz pouquíssimas nutricionistas e chefs de cozinha para os seus quadros de P&D, preferindo engenheiros, cientistas e tecnólogos – que nem sempre sabem cozinhar?
Como pode?
Este site foi feito para ajudá-la a ser mais criativa e inovadora.
Quem quiser ver como a indústria se comportou – de verdade – no debate sobre Rotulagem Nutricional Frontal, pode assistir às 9h 48min de evento aqui. O designer fala às 2h 17min, e menciona a sua experiência com a Rotulagem Nutricional Frontal às 2h 19min. A reformulação da Sprite foi citada pela pesquisadora do IBGE às 7h 00min.
(O Brasil é o país da zuera, óbvio que virou meme.)
A mesma pesquisadora traz que a pesquisa qualitativa mostrou que o alerta faz as pessoas deixarem de comprar alimentos com alto teor de açúcar e gorduras – justamente o seu intuito – a partir dos 6h 49min. Quando comparou os alertas frontais com os alertas do cigarro, a pesquisadora diz que os fumantes não os olham, completamente não reconhecendo o papel destes dentro de uma política pública bem-sucedida de redução do tabagismo (que não se restringe ao alerta, obviamente).
Você pode acessar o relatório do Grupo de Trabalho sobre Rotulagem Nutricional aqui. A pesquisa citada, cuja origem até o momento não foi possível ser descoberta, pode ser acessado aqui.
E isso é só parte da indústria se debatendo – a parte que não quer mudar.
Os executivos e executivas que precisam salvar a própria pele, pois seu negócio está bastante ameaçado – não por um alerta na embalagem. Mas pelo desaparecimento do próprio consumidor inconsciente, que já faz tempo que digo que nem nasceu.
Enquanto isso, milhares de negócio, que já entenderam a sua missão no mundo, surfam na onda da saudabilidade, entregando exatamente o que se espera de um alimento: prazer, sabor, mas também MUITA nutrição. A gente já viu um caso desses aqui no site, com a Farofa.la.
Visionários e Visionárias: abram os olhos e percebam os movimentos destas mesmas indústrias, mundo afora, comprando start-ups de alimentos saudáveis, para ver que a Big Food joga nos dois times.
Enxerguem a Matrix.
😉
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Oi Cristina bom dia! Queria te agradecer pelo texto publicado agora. Cristina eu nunca me senti tão bem representada como profissional quanto o seu texto. Durante a universidade me questionava a todo momento sobre todas essas questões. Pensei até em sair do curso porque me imaginei fazendo mal às pessoas como engenheira de alimentos. Até que comecei a enxergar que com o conhecimento que eu teria poderia ajudar a atuar diretamente na causa raiz do problema. As pessoas perdem MUITO tempo tentando discutir qual profissional é mais importante mas esquece que a interdisciplinaridade é uma virtude! E que nós somos seres humanos trabalhando PARA seres humanos! A indústria de alimentos é cruel! Não só na questão nutricional mas ambiental e social também. Ver textos como esse me dão esperança de que tô no caminho certo. Tô bem ansiosa pelo papo de sábado em Copacabana! rs obrigada novamente pelo texto, tô muito feliz de ter lido, vou compartilhar em todas as redes sociais! Hahaha beijos!
que lindo retorno, Renata! Siga firme no seu propósito – porque é de pessoas como você, que questionam a os status quo e estão dispostas a mudá-lo, que precisamos.
as carreiras relacionadas à Ciência e Tecnologia estão caindo no mundo inteiro – no Brasil, basta observar a quantidade de cursos fechando. Não é mais atrativo para o jovem se matar de trabalhar num local em que, por fim, ele não acredita.
mas eu ainda acredito que podemos sim ter produção mais sintonizada com a atualidade: mas, para isso, temos que olhar para dentro de nós e permitir que a mudança aconteça!
Seria legal colocar exemplos práticos como rótulos ou imagens para pessoas leigas como eu entender, aprender e poder repassar a informação. Artigos científicos são legais para técnicos, mas para consumidores comuns não ajudam muito.
Oi, Bernardo, obrigada pelo seu comentário! Realmente o texto foi destinado mais aos técnicos de alimentos, então não contempla esta parte mais prática. Vou pensar em algo neste sentido! Valeu pelo feedback 😉
Ótimo post!!! Como trabalhar com o propósito de fazer alimentos sabendo serem ruins? E ao mesmo tempo, como alimentar uma população com recursos escassos e doente, viciada em sal, açúcar e gordura? Como prevenir a indústria de faturar se esse é seu propósito de existir: produzir, vender e lucrar – e é daí que vem os impostos que bancam nossa educação, saúde e segurança? Como fazer em um país onde a educação vai de mal a pior e a população fica sem escolha porque não entende o que acontece no seu corpo? Será que a perda dos consumidores conscientes pelas companhias vai ser suficiente para mudar essa corrente? E o papel do governo de defender a população e protegê-la, de promover a saúde? E o nosso papel nisso aí qual é: seguir a maré, lutar contra? E os nossos empregos, as nossas vidas, e tudo o que lutamos para estudar e chegar onde chegamos? Confesso que é difícil para mim como engenheira e deve estar sendo difícil para muitos colegas. Mas quando sabemos que, ao invés de calarem e aceitarem que os ventos mudaram, há tentativas de impedir que o governo faça a sua parte em detrimento da população, dá vontade de realmente jogar meu diploma pela janela e começar de novo.