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Provocações da Sra Inovadeira

NÃO FAÇA PARTE DA ELITE DO ATRASO DE ALIMENTOS

Postado em 10/12/2021 por Cristina Leonhardt
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Lá nos anos 70, Belchior, vindo do Ceará e criticando o Tropicalismo, que por sua vez criticava a Bossa Nova, dizia que “o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo”. É da ordem do tempo que ele passe e o progresso venha. Fazemos alguns movimentos pendulares, voltamos algumas casas (né non?), mas é para frente que se anda. Não tem como barrar o avanço dos valores, dos costumes e da sociedade.

Mesmo assim, o progresso assusta. Progredir é mudar. E mudança gera medo.

Rotulagem nova? Medo. Guia Alimentar? Medo. Restrição de emissão de gases? Medo. Recall? Medo. Diversidade? Medo. Inclusão? Medo.

É tanto medo envolvido que por vezes eu me questiono se há mudança de fato, ou se apenas estamos passando um blush nas maçãs do rosto – aquele tapa de ESG para mercado achar bom e ótimo e segue o baile como sempre. O que se chama de mudança mais parece aquela “velha roupa colorida”: ela nem nos serve mais, mas ainda é chamativa o suficiente para sair na mídia e ganhar aplausos no Linkedin.

Só que as pessoas não querem maquiagem. A gente se ilude uns dois, três anos dias com promessas, com discursos vazios, com imagens bonitas, com vídeo emocionante para escocês ver na COP26. Mas uma hora cansa e a falta de fundamentos fica evidente. Quem não tem conteúdo não se sustenta.

A sociedade quer comida melhor. Quer um sistema alimentar mais justo e equilibrado. Quer mais inclusão e diversidade. Quer acesso e nutrição para todos.

Mas nem todo mundo quer o progresso. Tá cheinho de gente ao nosso redor que, com medo da mudança, e na tentativa de manter o seu status quo, não quer mudar é nada.

O sociólogo potiguar Jessé Souza, ex-presidente do IPEA, chamou de elite do atraso a classe econômica dominante do Brasil que seria a raiz do nosso parco desenvolvimento. Ao invés de querer ver o país crescer, essa classe estaria mais interessada em manter o seu status quo através de uma quebra periódica da nossa economia – o que mantém quem está embaixo, sempre embaixo, e ela, sempre em cima. A elite do atraso perpetua estruturas de poder social que remontam à escravidão e, segundo o autor, é a principal responsável pela manutenção da desigualdade social. Para ele, dizer que a corrupção é o nosso principal problema é justamente o que essa elite quer: que a gente não perceba que sim, existe corrupção, mas que a corrupção está a mando desta elite. Seria como, na metáfora do autor, culpar os aviõezinhos de papel pelo tráfico de drogas dentro de um presídio.

Eu, você e todos os visionários de alimentos somos parte de uma elite. Isso é dado.

A formação em curso superior, o empreendedorismo, a carreira acadêmica se interseccionam para formar bolhas de uma elite dos alimentos, nas quais a gente habita. Quase ninguém mais sabe mais sobre alimentos do que os visionários.

Somos megaprivilegiados para fazer nossas próprias escolhas de alimentação: nós inclusive decidimos o que os outros irão comer no futuro.

E aí eu lhe pergunto: a que parte da elite de alimentos você pertence?

Na Tacta temos algo muito claro: se vai aumentar a transparência para o consumidor, a gente apoia – portanto apoiamos a resolução de rotulagem de alergênicos, a regulamentação da lactose, a legislação sobre a rotulagem nutricional frontal. O Dafné até criticou a legislação de cereais integrais e teve um debate sobre isso com a Gerente Geral de Alimentos da Anvisa, a Thalita Anthony, entre outros.

Tudo isso sempre na visão de que a transparência é um caminho sem volta e que se queremos ser uma indústria de alimentos relevante no mercado, temos que ser mais porosos e permitir o fluxo da informação.

Mas, como vocês bem sabem, nem todo mundo compartilha da nossa visão progressista.

No Horizonte 20 Food, Dafné palestrava sobre a perspectiva da rotulagem nutricional frontal: naquele momento, a legislação já estava em debate e ele trazia aos participantes a sua perspectiva sobre como o mesmo iria continuar a partir dali. Em determinado ponto, Dafné deixou clara a sua posição: nós podemos fazer muito mais como empresas de alimentos no sentido da transparência com o consumidor.

Muito mais.

A gente tem que parar de mentir no rótulo – quem aí já viu produto “artesanal” ou “caseiro” feito em indústria? – e começar a falar a verdade. Porque, segundo ele, a verdade também vende.

Terminada a palestra, vem conversar comigo um dos maiores pesquisadores de alimentos do Brasil – alguém que (não vou citar o nome porque não vem ao caso) você com certeza já viu por aí. Alguém que é usado para validar um monte de posições atuais do mercado de alimentos e que tem um profundo conhecimento sobre ciência e tecnologia dos alimentos. Alguém respeitado pelas suas posições técnicas – inclusive por mim.

Me senti até lisonjeada. Não são muitas vezes que pesquisadores de tal renome se interessam pelas loucuras que a gente tem para falar.

E aí eu me lembrei de tudo o que as teorias feministas discutem:

  1. que não há ciência neutra
  2. que todo conhecimento é situado
  3. que se fingir de neutro é tentar fazer um truque de deus (onipresente, onisciente, acima de tudo e de todos)
  4. que nossos vieses estão presentes na nossa visão de mundo
  5. que nossos interesses moldam os projetos com que trabalhamos
  6. que não existe divisão entre sujeito e objeto: tudo, inclusive a ciência, é parcial e subjetivo.

Lembrei de tudo isso porque a fala foi: “vocês têm que ter mais cuidado com o que falam”. Eu fiquei meio paralisada. “Cuidado?”, pensei. Perguntei “por quê?”. E aí veio: “porque pode passar a impressão errada“.

Fiquei pensando: que impressão errada seria essa? Ora, o Horizonte Food é um fórum do mercado de alimentos. Quem está sentado na plateia trabalha neste mercado, ou é dono de empresas neste mercado. É um público, como falei antes, da extrema elite de alimentos no Brasil.

Por que então esse público não poderia ouvir uns puxões de orelha aqui e ali, que lhe fizessem acordar enquanto é tempo e mudar?

Ora, eu sei bem. Medo, né?

Mas não é só medo.

Ter criado a Tacta do jeito que ela é nos deixa um pouco mais livres para termos vozes individuais. Quem vem fazer curso conosco sabe que a gente não ensina o que é: mas o que deve ser, e o que pode ser. A gente ensina para o futuro – tanto é que a nossa camiseta diz bem grande, estampado no peito: eu sou a transformação.

Camiseta que ganham os nossos alunos das Formações e o pessoal que participa do Horizonte 22 Food presencial!

E é isso mesmo que a gente espera dos nossos alunos e clientes. Que todos sejam a transformação nos alimentos – e que por serem a transformação, também promovam esta transformação ao redor deles (ou seja, no mercado de alimentos). Cada um dentro das suas condições, mudando um pouco, fazendo nascer um novo Sistema Alimentar, mais justo, mais distribuído, mais sustentável.

Eu acho que dá bom. E você?

Mas pelo visto, tem gente bem dessa mesma elite a que eu e você pertencemos que não concorda. Que acha que tudo tem que ser do jeitinho que era antes. Que deusulivre criticar quem quer que seja, porque “ui, não pode”. Sabe aquela coisa do fada sensata, zero defeitos, nunca errou, até quando errou, tava certa? É essa figurinha que eu vejo subir na minha frente enquanto o tal pesquisador, cujas pesquisas dependem de recursos provenientes do status quo vem defender (oh, surpresa) o status quo.

Veja bem: nem num fórum de pessoas técnicas, só de gente que trabalha no mercado, pode rolar uma autocrítica. É tal sistema fechado, alimentado apenas internamente por recompensas, opaco e hostil a mudanças que a crítica tem que ser sempre desviada – então não pode nunca existir. Nem se ela for feita no seio do próprio sistema, ouvida apenas por quem opera no sistema, e por quem pode mudar o sistema.

A gente não está aqui falando de influencers que vão colocar a boca no trombone contra a indústria de alimentos, falando que as cores da embalagem Tetra Pak representam algum código demoníaco. Ou de alguém que espalhe que Coca-Cola é usada para lavar motor de caminhão.

Não.

Estamos falando de uma das maiores autoridades em legislação de alimentos do país, que pega todos os dias rótulos de alimentos para avaliar, e está simplesmente cansado de ver mentiras escritas todo santo dia. Todo santo dia temos alunos nos pedindo nos grupos como convence a empresa que não pode colocar “sem conservante” no rótulo – mesmo que o concorrente use.

(Dafné fala, né? Quem copia rótulos, copia erros.)

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É toda a indústria? Não, é claro (aquele argumento que a gente tá cansada de ouvir, não é, visionárias? “nem todo homem”. arrã, sentá lá, Cláudia). Mas um monte, a contar pelos inúmeros rótulos que analisamos.

E é aí que eu fico me perguntando: a gente usa a nossa montanha de privilégios nas escolhas de alimentos e do que os outros vão comer para quê?

Para oferecer alimentos mais nutritivos para a população?

Para acabar com a fome no Brasil?

Para aumentar o nível de sustentabilidade do Sistema Alimentar?

Para incluir mais pessoas neste Sistema?

Ou para garantir a manutenção do próprio privilégio e status quo, e tentar impedir a mudança (quem vem igual, queiramos nós ou não)?

Eu não sei. Sou dessas que segue muita gente que critica o mercado de alimentos. Tem uma visão crítica e fundamentada sobre alimentos, eu estou ouvindo. Sempre vejo essas falas como oportunidades para evoluir e trazer um mundo mais justo, sustentável e distribuído para todos.

Eu não me vejo como uma pessoa vulnerável neste mercado – e tampouco penso que a indústria seja. Eu olho para mim e vejo uma pessoa potente, que aguenta o tranco e pode mudar. E é da mesma perspectiva que eu vejo a indústria de alimentos. Aliás, desde o lançamento deste site aqui. Aqui nunca foi para defender a indústria, sempre foi “ei, vamos lá, tem que mudar”. Desde o primeiro texto.

Mas, eu sei, você sabe, nem todo mundo. Tem gente que não vê que o passado é uma roupa que não nos serve mais. E fica tentando fazer caber essa calça apertada e de tres-ontonte.

O passado nunca mais.

A gente vai ser sempre uma elite de alimentos. E é por isso a gente tem que usar essa montanha de privilégios com responsabilidade e um olhar para a sociedade e o coletivo.

Ps.: Para entender a aplicação das teorias feministas nas Ciências Humanas, Biológicas, Exatas e Engenharia, recomendo o ebook organizado em 2020 pela pesquisadora Mirim Grossi (com quem eu tive o prazer de ter uma aula). Você também pode ouvir o podcast com ela para o Edu Voices.

Ps.: Esse causo aconteceu no Horizonte 20 Food – e esse texto também serve para dizer que o Horizonte 23 Food está de volta à modalidade PRESENCIAL e está com inscrições abertas!

Um evento experiencial: você vê, escuta, sente, discute, degusta e, principalmente, constrói conosco o futuro dos alimentos.

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3 respostas para “NÃO FAÇA PARTE DA ELITE DO ATRASO DE ALIMENTOS”

  1. Natalia Rubia de Souza Lima disse:

    Parabéns pelo excelente texto!
    Sucesso Cristina!

  2. Natalia Rubia de Souza Lima disse:

    Parabéns pelo excelente texto! Entendo perfeitamente suas palavras!
    Sucesso Cristina!

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