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Cara amiga visionária, se você espera um texto açucarado, cheio de feminices e com palavras doces para fazer você se sentir única, especial e um alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado, eu peço desculpas. Trouxemos um suco purinho de verdades que quase ninguém te conta. Aqui é pau no gato sem massagem! [1]
Durante o mês de março vimos 12 histórias lindas de mulheres inspiradoras, inteligentes, sagazes, simples e cheias de vontade de revolucionar o mundo dos alimentos. Com certeza você ficou olhando para elas e pensando como fazer para atingir o mesmo nível e como se inspirar nessas histórias para escrever a sua. Vamos te mostrar algumas características que essas pessoas têm em comum que fizeram com que elas se tornassem as mulheres que são hoje.
Eu não podia te aconselhar sozinha, por isso convidei a Cecília D’Alessandro para um bate papo para inspirar as linhas desse texto. Essa mulher tem uma visão de mundo e uma mente voltada para a criatividade que é sensacional. Ao longo dos meus 28 anos de vida, poucas vezes tive o prazer de conversar com pessoas com as características da Cecília. Ela consegue conectar alimentos, inovação e paixão pelo trabalho de forma leve e intensa. Além da Cecília houve outras inspirações que foram somadas com o intuito de juntar forças e te dar um empurrãozinho do bem para te fazer ir mais longe. Quero te fazer refletir e pensar sobre o que é Ser Ela.
E quem é ela? Como já dizemos no episódio 1 ela é excelente, fora da curva, visionária, brilhante, inovadora ou não quer adotar nenhum adjetivo e ser apenas uma pessoa sem rótulos. Ela tem alguns atributos muito bons e louváveis. Tem erros e defeitos e trabalha para melhorá-los a cada dia, pois entende que errar é humano e ninguém nessa vida é 100% perfeito.
Ela nem sempre consegue tudo aos 20 e poucos anos. Essa pressão por ter o emprego dos sonhos, corpo escultural, casa, carro, filhos, vida sentimental estabilizada, roupas da moda, círculo social badalado, diversos carimbos no passaporte e dinheiro para fazer o que der na telha antes dos 25 anos não é regra para todas. Isso depende de fatores familiares, sociais, financeiros, ambientais, geográficos, educacionais e mais um monte de coisas que nem cabe nessa listinha. A maioria das mulheres com as quais conversei já passaram dos 35 e estão muito felizes com suas vidas. Aparentemente o tal do fator idade não existe em suas mentes, não estão restritas ao tempo cronológico, mas a um tempo pleno. Aprenderam a ver que a vida é uma reunião de todos os eventos que aconteceram ao longo de sua história e não se resume a uma data de aniversário.
Ela aproveita as oportunidades. Nem sempre começamos no topo; os andares mais baixos as vezes fazem parte da nossa história. Vide a história da Tereza Cortelazi e da Vica Dias: ambas começaram no chão de fábrica e hoje sentam na cadeira de girl boss sem perder a humildade e a humanidade. Assentar-se nessa cadeira exige responsabilidade, mas também um lado humano muito forte. Além de amar alimentos você precisa amar gente. Você vai ser especialista na sua área de formação e por vezes será conselheira, confidente, ombro amigo, irmã mais velha, mãezona e referência. Tem gente que vai chegar na empresa radiante pela manhã e desabar no meio da tarde. E aí, o que você vai fazer? Mandar engolir o choro e agir como chefe ou chamar para um café, ouvir as dores pessoais e agir como líder? Se você não tiver empatia e não amar pessoas, teu diploma e tua cadeira de liderança são comparáveis a um monte de lixo. Desculpa a franqueza, mas se ninguém nunca te falou isso é porque talvez você seja tão fechada e se coloque numa redoma de inacessibilidade que você não tem colegas de trabalho, apenas colegas de cargo que aguardam ansiosamente pela dança das cadeiras, na qual a sua será retirada para alegria e felicidade da nação.
Ela sabe diversos assuntos. Multi, inter e transetorialidade é com ela mesma. É especialista num determinado tema, mas sabe de tudo um pouco, desde artes plásticas até matemática. Não se restringe a saber apenas sobre sua área de atuação, ela sabe muita coisa e isso a faz ter uma visão extremamente ampliada do seu trabalho. Ah, saber artes plástica quando se trabalha com P&D é uma vantagem expressiva; depois que descobri isso minha visão para alimentos mudou.
Você já assistiu a série Lupin, da Netflix? Ela é sobre um homem que se inspira nas aventuras do livro Arsène Lupin – o ladrão de casaca, para traçar suas estratégias de vida. Ele é sagaz, inteligente, simples, simpático, sabe bons truques e é estrategista até o talo! Eu assisti essa série e me senti representada ali, pois sou tão estrategista quanto ele e tenho uma visão holística de problemas e situações (só não sou ladra, mentirosa, trapaceira e rica como o personagem). Fiquei tão empolgada e identificada com essa série que maratonei em 1 dia! Ser estrategista no P&D de alimentos é característica profissional mandatória. É o cerne do trabalho e da mente criativa. Sem isso você vai ficar nadando em círculos e fazendo ctrl C + ctrl V do trabalho alheio.
Ela atua em equipe. Num bate papo com Samantha Ferrante ela falou algo muito importante sobre isso. Enquanto engenheira de alimentos e profissional atuante do setor desde 1992, ela tem percebido ao longo de sua trajetória que o P&D não é uma ilha. Ela pontuou a necessidade de andar de mãos dadas com o marketing e outros setores dentro e fora da indústria para que cada um desenvolva uma etapa do projeto e gere um produto de sucesso, projetado para atender os interesses do consumidor, com custos adequados, de alta qualidade e saborosos. Exemplificando essa atuação em equipe, temos o exemplo da Flavia Garbin, farmacêutica e bioquímica que trabalha com P&D de chocolates. Hoje ela atua em bastante sinergia com a equipe de marketing e vendas da empresa na qual trabalha. Vive em um ambiente dinâmico, onde mesmo tendo processos a seguir, protocolos e projetos pré-estabelecidos pode fazer a mente voar e ter sua criatividade estimulada pelo dinamismo e pelo ambiente multiprofissional no qual está inserida. Daí a preciosidade de entender que o P&D não é uma ilha onde reinamos, é um país democrático com muitos partícipes dos processos de decisão e criação.
E outra dica importante dada pela Samantha: FOCA NO PROCESSO! Sério amiga, foca nisso. Entenda o processo, entenda as suas formas de funcionamento, entenda sua dança, entenda seus movimentos, formatos e desenhos. O processo não é tudo, mas é uma grande parte. Se você já assistiu a série Snowpiercer lembra-se da personagem Melanie Cavill, que só em encostar a mão no trem sentia se havia algum defeito ou instabilidade em um dos vagões ou em uma peça. Tenha seu objeto de trabalho como uma paixão que só de colocar a mão você já sinta o que está acontecendo, o que está errado ou certo e o que pode ser melhorado. Use seu feeling!
Ela enfrenta obstáculos diários. Conversei com duas mulheres chamadas Juliana que além do nome em comum possuem uma visão sobre o ambiente corporativo que faz parte da rotina de grande parte de nós. Ambas pontuaram a imposição e a luta por respeito que precisam travar diariamente por ser uma mulher que ocupa cargo de chefia. Quando digo luta não estou falando sobre brigas, mas sobre posicionamento. Mesmo no século XXI, com acesso a informação, pautas sobre feminismo, diversidade e inclusão berrando a alta voz em todos os cantos ainda precisamos pontuar esse assunto, sofrer na pele, dar a cara a tapa e abrir os caminhos para as que estão vindo após nós sofram menos, tenha seu protagonismo e não tenham seu profissionalismo mensurado pelo cromossomo XX, apenas pelo cérebro.
Agora usando do meu lugar de fala de mulher e preta, eu gostaria de assinalar que ainda não sei o que é ser discriminada no ambiente de trabalho por ser mulher. Não falo isso anulando a fala das Julianas, longe de mim! Estou apenas trazendo a tona um outro viés que muitas vezes é invisibilizado nessa luta de ser uma mulher no setor corporativo e que muitas colegas pretas do P&D sofrem. Quando entramos em um escritório ou em uma sala de reunião na maioria das vezes não somos mulheres, somos pessoas de cor apenas. O nosso sexo é anulado em virtude da raça. Eu gostaria demais de saber o que é ser mulher e ser discriminada no trabalho simplesmente por ser mulher, mas eu não sei. A questão racial grita muito mais alto e a cor da minha pele dizima todas as possibilidades de alguém se incomodar por eu ser mulher. O viés racial nos conduz a cada dia precisarmos dar a cara a tapa e ter uma arrogância positiva estilo rapper norte americano, levantar a cabeça e mostrar que quem chegou é um ser humano, não um cão leproso que deve ficar em silêncio engolindo tudo que lhe é jogado no chão por pena. Em resumo: construa teu espaço e teu respeito. Não permita que as pessoas usem como prerrogativa teu sexo e a tua cor para definir teu profissionalismo e o lugar que deves ocupar. Seja uma mulher de atitude, voz ativa e que quebra barreiras.
Ela se reinventa. A Luciana Cabral, tecnóloga em alimentos, é um grande exemplo disso. Essa mulher chegou num ponto da carreira em que olhou para si e fez uma pergunta que muitas de nós fazemos em algum momento da vida: “-miga sua louca, o que eu estou fazendo aqui e aonde quero chegar?”. O GPS da vida profissional da Lu bugou e ela entendeu os sinais de falha. Decidiu parar, pensar, respirar, entrar em um processo de auto conhecimento e explorar outros pontos de si que não conhecia. Largou o GPS falhado, pegou uma bússola e decidiu explorar quem era aquela Luciana graduada em tecnologia de alimentos que não se reconhecia mais na profissão e resolveu se reinventar para continuar seguindo em frente com o mesmo brilho nos olhos do dia em que se formou. Um dia, tenho certeza, que todas nós que já caminhamos um pouco profissionalmente nos vimos como a Luciana. Ela fez o que poucos tem coragem de fazer, que é reiniciar no meio do caminho. E não é que está dando certo? É só olhar o perfil dela que o sorrisão no rosto e a capa colorida já falam por si. A combinação razão-coração que ela tem feito é a chave para a reinvenção e reinício da trajetória. Ser ela é não ter vergonha de dar um giro de 180° e seguir outro caminho para a auto satisfação pessoal e felicidade profissional e familiar. “Ah Raquel, mas o que os outros vão pensar de mim?” O que eles vão pensar é problema deles; enquanto eles pensam você age sem olhar para os lados e de ouvidos fechados para os críticos. Se o exemplo da Luciana é insuficiente para você, pegue o caso da Cristina Ferreira, sócia e diretora executiva da Solucionária. 30 anos de carreira nas costas e abriu mão da estabilidade numa empresa grande para se dedicar a uma empresa recém fundada pela Sara Araújo na sala de casa. É louca? Não, é visionária! Viu potencial, viu brilho nos olhos, viu estrela, viu oportunidade e quis embarcar nessa história trazendo na bagagem experiência, conhecimento, clientes em potencial e abrindo novas portas. Medo para ela não existe, assim como não deveria existir para nenhuma de nós. Avalie os riscos, seu momento de vida, ideações de futuro e se jogue no novo!
Ela tem um bom work life balance. A primeira vez que eu li essa expressão foi no livro de inglês quando tinha uns 10 anos e nunca mais esqueci. Ter um bom work life balance significa que você deve saber ter um equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Ela sabe a hora de trabalhar e de cuidar de si e de sua família. Cuida de tudo que está sob seu domínio, mas também olha para si, suas necessidades e não come aço no café da manhã e engole sapo no meio da tarde. Ela tem uma vida equilibrada.
Ela tem amigas catalisadoras do sucesso. Yta Moreira e Tereza Cortelazzi tiveram amigonas na trajetória profissional. Ouso dizer que se essas amigas não tivessem aparecido no momento certo de suas vidas elas teriam outra trajetória pessoal e profissional. Tenha amigas de verdade! Faça network, não “interestwork”. No interestwork você faz amizades visando aquilo que a pessoa pode te proporcionar de lucro e ascensão; no network você faz ligações profundas e cria raízes através de amizades, carisma e talento. E deixa eu te contar um segredo? Todo mundo percebe quando alguém se aproxima apenas por interesse. Se você está fazendo interestwork pensando que está fazendo sucesso, para que está feio! Você está passando a imagem de puxa saco e bajuladora.
Ela precisa entender que a sua história é uma e a história da empresa que trabalha ou possui é outra. São seres diferentes, entidades diferentes. Não devemos incorporar um CNPJ e esquecer o nosso CPF, pois quando o CNPJ falir o nosso CPF terá sofrido um auto cancelamento, uma vez que foi fundido com o CNPJ e não nos demos conta. Se um falhar o outro falha junto e já era. De todas as orientações que te demos talvez essa seja a mais importante: não deixar sua identidade se diluir em uma instituição! Essa dicotomia CPF-CNPJ ocorre quando ela conjuga o verbo to be de forma madura e precisa. Ela entende que nunca é, apenas está. Ela está estagiária, está gerente, está analista, está desempregada, está empresária… ela só está, ela não é. Nada é fixo nessa vida, só o fato de que nascemos e de que um dia vamos morrer. Não somos um cargo, somos uma pessoa. Um dia estamos ocupando uma posição e nos movimentos do universo podemos mudar de lugar da noite para o dia. Só cuidado para não ocupar uma posição de forma pedante e arrogante, pois se a terra plana na qual você fixa sua cadeira capotar, tu vais de cara no chão. É melhor o movimento de translação e de rotação do que o movimento de capotamento.
Fui dura em alguns trechos, mas foi para seu bem. Quero te ver no topo e alcançando seus sonhos e para isso preciso ser realista e mostrar que o mundo vai muito além das fantasias. Aqui é o site da Sra. Inovadeira, um espaço que tem compromisso com a verdade, quebra de mitos, rompimento de paradigmas e abertura para o novo; o Sra. Baboseira e o Sra. Ladainha são para o outro lado. Trouxemos um texto forte para te fazer uma mulher forte e expoente no seu campo de atuação. Fomos duras, mas te juro que foi com carinho e muito amor, pois queremos te ver com a estrela brilhando pelo mundo do P&D de alimentos.
Leia e releia
esse texto quantas vezes julgar necessário. Se não quiser ler novamente e achar
que fomos exageradas aconselho que esqueça tudo que escrevemos, volte daqui a
05 anos e veja que demos hoje conselhos de ouro para aquelas que querem ser
profissionais completas amanhã. Como diriam na periferia do RJ, o papo foi dado
e é melhor você abraçar o papo antes que o papo te abrace! ?
[1] força de expressão, nenhum gatinho foi agredido para a criação desse post e somos contra os maus tratos a animais
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Sem spam. Só inovação.
Que texto incrível! Ler e reler para absorver, na certeza de que muitas de nós estão inteiramente descritas aí.
Texto incrível Raquel! Parabéns e obrigada pelos ensinamentos!