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Vem a crise, começam os cortes nas empresas. Por onde começar? É típico do Brasil e da nossa visão de curto prazo pragmática: vamos cortar nas áreas que são luxo, supérfluas e não garantem o faturamento.
Produção, Vendas e Faturamento, nem pensar. Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento e Qualidade – tudo muito bacana, mas agora na crise, o que a gente precisa é produzir e vender. Podemos fazer o mesmo com menos, talvez a gente nem precise mais de tantos projetos mesmo. E já corta aquela implantação da ISO que agora não é mais prioridade.
Talvez você esteja passando exatamente agora por esta situação na sua empresa. Projetos sendo reduzidos, pedidos de corte de orçamento, revisão de planos. Viagens já são coisa do passado, imagina implantar um novo sistema de gestão de fornecedores. E quando vão começar os cortes de pessoal?
Será que esta é a melhor forma de lidar com uma crise econômica? Que impactos podemos esperar da interrupção de projetos e redução de investimentos em inovação?
Vamos falar sobre o valor da inovação em tempos de crise e os efeitos da descontinuidade. Talvez seja um artigo para você levar para a sua reunião de planejamento estratégico.
Na crise de 2008, que se intensificou em 2015 no Brasil, nós já vimos este filme. É provável que muitos que estão lendo tenham sido demitidos ou trocado de emprego mais ou menos nesta época. Vimos equipes gigantescas de P&D sendo picotadas – alguns frigoríficos com redução de até 25% do seu quadro de P&D.
Por outro lado, houve países que passaram de forma bem diferente pela mesma crise. Europa e China, por exemplo, aumentaram os gastos com Pesquisa e Desenvolvimento.
Por que esta diferença?
Cada país faz uma aposta em como vai prosperar. O Brasil largamente acredita no jogo das commodities: vendemos muita carne, soja, café e açúcar para alimentar o mundo. Altos volumes, grandes faturamentos e margens baixíssimas que exigem excelência operacional e custos sempre em redução. Para vender commodities, não precisamos tanto de inovação. Precisamos bem mais de Qualidade.
Nossas equipes de P&D são sempre menores do que as de Qualidade.
(Conte na sua empresa)
Estamos sempre à mercê da flutuação internacional de preços de commodities, o que é amplamente influenciado pelo consumo. Cai o consumo, caem os preços, vendemos menos. Cresce o consumo, sobem os preços, vendemos mais.
Claro que o dólar também é um fator a ser ponderando – dólar alto, nos tornamos mais competitivos ainda (algo que a nossa escala já ajudava), mais empresas preferem exportar commodities do que investir em inovação.
Isso é tão notório nas nossas empresas que mesmo aquelas que vendem especialidades – como ingredientes, por exemplo – muitas vezes caem neste jogo. Vale mais a pena exportar o ingrediente mais comum, menos inovador, do que investir no desenvolvimento de produto e mercado para ingredientes mais especiais (o que leva tempo, dinheiro, esforço e conhecimento do mercado).
Há empresas que chegam a exportar seus ingredientes inclusive para concorrentes, perdendo a oportunidade de conhecer bem a dinâmica do mercado, seus clientes finais e como se aplicam seus produtos. Atuando num mercado que é de especialidade como se vendessem commodities.
(Acha que estou brincando? Pois dois casos reais me vêm à mente agora. Deve haver outros.)
A questão é que não controlamos duas partes desta equação: o nível do consumo e a taxa internacional do dólar. Por isso, a aposta que o Brasil faz em commodities é algo que nos expõe, e tem nos exposto, continuamente a crises. Este é um dos motivos pelos quais nos afundamos em crises recentes, como em 2015, e não conseguimos mais retomar a economia. O que temos para ofertar ao mundo é algo de baixo valor agregado, com muitos concorrentes e poucas barreiras de entrada.
Em tempos de dólar alto, consumo alto, ou ambos, nadamos de braçada. Vendemos e ganhamos muito dinheiro com produtos que são baratos e fáceis de serem produzidos. Produtos que não precisam de tanto esforço para convencer o comprador. Produtos que, em grande maioria, podem ser vendidos pelo telefone.
Já China a União Européia seguem outro caminho. Estas economias aumentam o investimento em P&D durante as crises. Podemos ver este efeito bem claramente no gráfico a seguir, observando o que acontece entre 2008 e 2011 com a parcela de investimento em P&D frente ao PIB.
Veja que o investimento brasileiro em P&D no período é o mais baixo entre as amostras e pouco muda no período (é claro que aqui estamos falando de um número genérico, para todos os segmentos, incluindo serviços e outros atores da economia).
Com este nível de investimento em P&D, estas economias estão apostando que é a inovação – e não as commodities – que irão fazê-las prosperar. Os resultados falam por si: os países da zona do euro ocupam os maiores índices do IDH e PIB há anos e mesmo um país populoso, desigual e em desenvolvimento como a China consegue sair das crises com muito mais velocidade do que se esperava.
Inclusive desta crise mais recente causada pela pandemia do Covid-19.
É fácil, Pequeno Padawan: nenhuma economia é homogênea. Todas se comportam como um aglomerado de empresas que fazem apostas diferentes – algumas apostam mais em inovação, outras apostam mais em volume e preços, outras acreditam no atendimento e serviços e há aquelas que entram no caminho do marketing.
Mesmo dentro de um país como o nosso, que acredita fortemente no jogo das commodities, há empresas e empresas.
A Fazenda Futuro já está exportando para a Europa e Estados Unidos enquanto a sua mal e mal consegue vender em outro estado aqui no Brasil? Talvez falte algo único aos seus produtos. É possível que o investimento em Inovação e P&D seja baixo.
Se a aposta da sua empresa é pela inovação, então é hora de planejar estrategicamente quaisquer reduções de orçamento que estão sendo previstas. Vamos entender os efeitos que a descontinuidade tem sobre a capacidade de inovar e o que você pode fazer para minimizar estes impactos.
Lá em maio de 2020, a gente conduziu uma pesquisa com os nossos seguidores, para saber quais impactos a pandemia estava trazendo para os processos e projetos de P&D de alimentos. Participaram cerca de 370 pessoas – os dados foram bem contundentes.
Metade da galera de P&D foi para home office – parte dos esforços de reduzir a concentração típica que existe em fábricas de alimentos. Isso, é claro, afetou diretamente os testes de desenvolvimento que são físicos.
A redução de jornada, que foi uma das poucas medidas do governo para enfrentar a pandemia (máscara, vacinas, distanciamento que é bom, nada, né non?), afetou apenas 30% do público de P&D.
O que mais chamou a atenção: 31% dos participantes relataram que seus projetos estavam naquele momento simplesmente suspenso. 58% tinham sofrido uma redução de número de projetos. Qual era o impacto disso? Lançamentos foram congelados: 64% dos participantes não tinham lançamentos previstos para os próximos 60 dias.
Houve ainda muita redução de quadro de P&D (que já é setor pequeno) durante a pandemia, com milhares de profissionais deixando o mercado. Muita gente teve que aceitar posições inferiores para se recolocar – o que apareceu, por exemplo, nas entrevistas com mães trabalhadoras da indústria de alimentos que conduzimos em maio de 2021.
“Eu quero ser uma grande executiva, trabalhar em projetos grandes. Contudo, fui desligada na pandemia, voltei a ser analista e ganho 46% menos.” – Analista de P&D de empresa de food service
Por falta total de rede de apoio, muitas estas profissionais – mesmo se sentindo mal com a decisão – decidiram (ou tiveram que decidir) não voltar ao mercado de trabalho. Há uma perda evidente de talentos, de visionárias de alimentos brilhantes e competentes, que simplesmente não querem mais voltar ao mercado como ele era. Mas isso já é assunto para um próximo post.
Outra consequência foi a virtualização dos testes industriais. As empresas mais conectadas usaram os mecanismos de auditoria online não apenas para os seus processos de Qualidade, mas também na área de P&D. Para evitar viagens e contato entre as equipes, teve gente no Brasil acompanhando testes industriais no Chile através de óculos smart. Que impactos essa virtualização tem sobre a geração de conhecimento no projeto?
Você pode ver os resultados da pesquisa dos impactos da pandemia sobre P&D aqui.
Como essa a descontinuidade – parar de desenvolver – afeta a capacidade das empresas inovarem? Eu vejo três consequências diretas.
Pesquisa e Desenvolvimento é a área que se debruça a estudar o futuro da empresa – pelo menos do ponto de vista da inovação tecnológica. A área de Inovação faz o mesmo de uma forma mais geral, traçando cenários futuros e mapeando possibilidades de negócio que poderão ser perseguidas.
É, claramente, onde se cria o conhecimento mais estratégico que uma empresa pode ter sobre seus produtos, processos e negócios.
Mesmo assim, muitas empresas lidam com a área de P&D como se fosse um faz-tudo da Produção. P&D não senta na mesa da liderança, não tem voz, serve apenas para reduzir custos e resolver problemas de processo.
É seu caso?
Talvez você possa considerar que o trabalho que faz não é exatamente P&D. É Qualidade – afinal, redução de custos é uma das faces da melhoria contínua. Melhoria de processos é claramente Qualidade.
Empresas que lidam assim com o setor chamado de P&D (mas que funciona como uma Qualidade) tendem a considerar este setor um luxo quando passam por crises. Aí vêm os cortes de projetos, orçamento, pessoas.
Mesmo que a empresa tenha um setor de P&D realmente estratégico, não está livre de fazer cortes em momento de crise. Um dos principais impactos da descontinuidade para a capacidade de inovar é a perda de conhecimento estratégico.
A maior parte do que se aprende em um projeto de inovação fica na cabeça de quem trabalhou nele. Apesar de que existem mecanismos para reter este conhecimento na empresa – e você pode ver este webinar a respeito – nenhum deles é perfeito. Sempre há um degrau entre o que o pesquisador aprendeu e o que a empresa aprendeu com o projeto.
É a dificuldade de compartilhamento de conhecimento que é inerente ao tipo que é mais importante para a inovação: o tácito.
Ou seja: toda vez que alguém sai de uma equipe de P&D e Inovação, leva consigo conhecimento estratégico. Este conhecimento vai fazer falta ali na frente, quando surgir um novo projeto parecido com o que esta pessoa tinha conduzido – e ninguém souber por onde começar.
E eu nem estou considerando o fato de que este conhecimento pode ir direto para o seu maior concorrente – mais ou menos o que aconteceu entre os dois maiores frigoríficos do país por volta de 2014. E com empresas que demitiram todo o P&D em janeiro de 2020.
(Depois de demitir você fica acendendo vela para a Deusa Ajudadora dos Novos Produtos, não?)
Tudo bem parar agora, depois é só retomar? Olhe lá – mesmo que a sua equipe não tenha sido reduzida, o simples fato de estender os prazos dos projetos ou suspender uma parte deles trará impactos para o atendimento de projetos futuros.
Por quê?
Porque desaprendemos a inovar.
A criação de novos produtos é um processo criativo: ele não segue um fluxograma igual todos os dias, com passos pré-planejados, rítmicos, repetidos e sequenciais. Faz parte deste tipo de processo aprender a cada projeto – isso quer dizer que começamos mais devagar e finalizamos o projeto com mais velocidade.
Mais ou menos como se houvesse um atrito estático logo no início do projeto, que é vencido pela disposição do pesquisador ou pesquisadora. Conforme o projeto é posto em marcha, eles sentem cada vez menos o atrito – ou seja, já sabem o que fazer, não precisam mais planejar, o projeto ganha velocidade.
Aumentando os prazos de entregas de projetos, vamos contribuir (e muito!) para a criação de conhecimento nas nossas empresas. A maior parte dos meus alunos que trabalha em P&D e Inovação alega que não documenta tão bem quanto gostaria seus projetos e não treina tão bem como deveria às equipes de Produção e Qualidade ao final deles por pura falta de tempo. Os prazos são cada vez mais absurdos, o que compromete muito a entrega de projetos com qualidade.
Então, possivelmente teremos uma consequência positiva desta redução do ritmo dos projetos: projetos mais bem entregues.
Mas as equipes vão demorar a recobrar o ritmo no futuro.
Talvez o maior calcanhar de Aquiles da nossa atual Gestão de P&D e Inovação seja a gestão do portfólio de projetos.
Seja sincero consigo agora: para quais projetos você diz sim? Quais nega? Em que ordem os persegue?
Critérios de seleção e ranqueamento de projetos, na maior parte das empresas, não estão bem claros. Tem muito projeto que fica prioritário na base do grito. Está cheio de projeto disruptivo que é negado porque não tem informação precisa sobre vendas. A gestão ineficiente do portfólio de inovação é uma consequência de uma falta de estratégia de inovação.
O que acontece então quando os projetos são suspensos? Quando criamos uma represa de projetos aguardando o sinal verde.
Daqui a alguns meses, quando a economia começar a dar sinais de retorno mais claros, vamos querer retomar estes projetos represados. Por qual começar? Em que ordem colocá-los?
Se já temos dificuldade em definir isso com o fluxo normal de novos projetos, imagine quando a represa romper? Teremos impactos muito mais longos do que o previsto.
Estamos agora há cerca de 1 ano e meio nesta pandemia, e eu quero saber de você: como ela tem influenciado o fluxo de projetos por aí? Após o período de baixa, no início de 2020, a maior parte da indústria de alimentos voltou ao trabalho de alguma forma. O que você sente que mudou? Que impactos a pandemia trouxe para a forma como se faz Inovação e Pesquisa e Desenvolvimento por aí?
Conta para mim.
A maior crise do século com certeza afetou a sua empresa. Afetou o seu trabalho. Tudo mudou. Como você pensa agora?
Você pode complementar este texto entendendo como o investimento na função Monitorar o Mercado foi crucial para o desenvolvimento rápido de vacinas – e pode ser uma chave para entregar projetos mais rapidamente. Também vale a pena conferir as principais tecnologias que estão perturbando o mercado de alimentos.
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