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À parte de uma crise sanitária e econômica, estamos vivendo um momento histórico. A pandemia do coronavírus COVID-19 é a mais grave dos últimos 100 anos, afetando transversalmente todos os países do mundo. Nenhum setor passa incólume por estes dias em que expressões como quarentena, distanciamento social e pico da curva se incorporaram ao vocabulário das conversas mais corriqueiras.
A indústria de alimentos também é afetada: enquanto a frase “todo mundo tem que comer” volta a representar a resiliência do setor às crises, nem todos os segmentos deste mercado se beneficiam pelo maior consumo nas residências. Apesar de seguirmos comendo, o tipo de alimento consumido muda em momento de crise.
Do ponto de vista da metodologia autoral da Sra Inovadeira – FoodValue – a pandemia afeta principalmente duas camadas de valor dos alimentos: nutrição e saúde e conexão. Alimentos que não trabalham bem estas camadas de valor estão sofrendo – é o caso de diversas guloseimas usadas em festas, por exemplo. Com festas suspensas e um foco reforçado no aumento da própria imunidade, balas, chicles, marshmallows e pirulitos sofrem.
Era de se esperar que esta mudança trouxesse reflexos imediatos para a pesquisa e desenvolvimento de alimentos no Brasil. Trabalhamos, por aqui, em projetos de curto prazo, para um horizonte próximo. Poucas – ou nenhuma – empresas previram este tsunami chegando. Menos ainda foram as empresas que, preventivamente, tinham projetos adequados para este cenário no pipeline de desenvolvimento, preparados para serem lançados.
Para entender como a pandemia está afetando o P&D de alimentos no Brasil, eu realizei uma pesquisa no Instagram deste canal entre 16 e 17 de maio. Por lá, 6.234 visionários de alimentos acompanham lançamentos, eventos e outros assuntos do setor: um público majoritariamente de P&D de alimentos.
P&D não é – ou não deveria ser – setor essencial de uma empresa. Assim, a atitude mais cidadã e solidária a ser adotada pelas empresas é liberar o trabalho remoto para estes profissionais. Mesmo assim, 44% dos participantes indica estar trabalhando na empresa.
Os demais 56% está em home-office, o que notadamente afeta testes em escala laboratorial, piloto ou industrial (universo de 371 respostas para esta pergunta).
A maior parte do público permanece empregado. Contudo, 6% dos profissionais foram demitidos devido à crise (num universo de 429 respostas). Uma parte mais significativa (30%) sofreu alguma redução de jornada de trabalho (426 respostas).
Vale lembrar que P&D já é um setor de baixa intensidade de pessoas. Nossa pesquisa apontou que, enquanto o tamanho médio das equipes é de 11,9 pessoas (largamente afetado por algumas equipes grandes de multinacionais), mais de 51% das equipes têm 5 pessoas ou menos. A redução de pessoas ou tempo em atividades de P&D em equipes que já são pequenas trará consequências tanto imediatas quanto futuras para os negócios.
P&D ainda é visto como um luxo: em momentos de crise, é um dos setores a sofrer cortes. Quem viveu 2015 sabe bem que diversos profissionais foram parar no mercado, o que impulsionou a levada de empreendedorismo em alimentos pela que passamos (inclusive, para esta que vos fala).
Em maior parte, a área de P&D segue desenvolvendo projetos (69%). Mesmo assim, é importante notar que 31% da amostra está parada, com projetos suspensos (total de 342 respostas).
58% dos participantes diz que a crise reduziu o número de projetos em andamento (295 respostas), o que é reforçado pelas respostas à pergunta aberta “como a crise influenciou o tipo de projeto que você está fazendo?”). Alguns exemplos seguem:
46% continuam tendo lançamentos previstos para os próximos 60 dias (total de 296 respostas). A maior parte, contudo, informa que não tem lançamentos previstos no curto prazo.
P&D virou a chave para projetos de desenvolvimento de alimentos ligados à imunidade ou produtos de higiene e limpeza, como álcool e outros. Redução de custo, de gramatura e projetos que não exigem testes industriais também aparecem com bastante frequência.
O desafio de algumas empresas é grande. “Como tornar os produtos que são pura indulgência em produtos que façam parte da alimentação”, compartilha uma visionária. “Diminuiu o número de projetos e a atenção está toda voltada para imunidade e álcool gel” é a realidade de outra.
Imunidade aparece como objetivo de desenvolvimento para 6,25% dos participantes (48 respostas abertas recebidas). Já redução de custo (via reformulação ou redução de gramatura) consta em 14,6% das respostas.
A principal área afetada foram os prazos de entrega. Morosidade, prazos alargados ou impossibilidade de dar sequência nos testes de desenvolvimento de produtos aparece em 31% das respostas.
Há oportunidades a serem exploradas na inovação aberta, por parceiros de mercado que possam suprir as carências que a área de Pesquisa e Desenvolvimento está apontando. Se antes o acesso a planta-piloto e equipes de análise sensorial já eram baixos, equipes de P&D em home office e o cancelamento de testes industriais vêm adicionando camadas de lentidão aos projetos. A pandemia poderá funcionar como uma represa de projetos de P&D para muitas empresas: quando as atividades voltarem a alguma normalidade, as pequenas equipes de P&D terão muita dificuldade em navegar na montanha de projetos.
Será também momento de ter uma Gestão de Processos de P&D bem estruturada, com seleção e ranqueamento de projetos alinhados com os objetivos estratégicos de inovação da empresa.
Durante e após a crise, a importância de uma boa Gestão de P&D é redobrada. Gestores de P&D do Brasil inteiro serão chamados não apenas a entregar projetos, mas a assegurar que suas equipes deem conta do volume de trabalho que começa a represar.
A maior parte dos participantes relata estar ansiosa em relação ao futuro da sua carreira (66%, de um total de 366 respostas). Esta ansiedade pode estar em direto contraste com o clima percebido na pesquisa realizada no início do ano (entre 05 de dezembro de 2019 e 24 de janeiro de 2020), em que 61% dos participantes demonstrava satisfação com o seu momento de carreira atual. Apesar de que ansiedade e satisfação não serem exatamente opostos, pode-se alegar que uma percepção maior de ansiedade perturba a satisfação de um profissional em seu posto de trabalho.
Uma nota para os líderes de P&D: equipes ansiosas e inseguras não inovam. Comunicação transparente com a equipe e a manutenção de um clima de confiança serão pontos importantes para garantir a fluidez dos processos criativos de P&D e a capacidade de seguir inovando.
Apesar da ansiedade, percentual similar de visionários (67%) acredita que a indústria de alimentos não entrará em crise devido à pandemia (total de 384 respostas).
Pode ser uma confiança exacerbada na resiliência do setor?
A meu ver, sim.
De todos os lados, pode-se ver o mercado de alimentos sofrendo, principalmente na produção primária, com quedas vertiginosas de preço e demanda. Contudo, conforme reportagem publicada hoje pela BBC, setores da indústria também estão sendo impactados, como queijo e batata congelada. Nouriel Roubini, professor de Economia da Escola de Economia Stern, da Universidade de Nova Iorque, alega em artigo para o The Guardian, que estamos em frente a uma recessão ainda maior do que a de 2008.
A Wikipedia mantém uma página em atualização constate sobre o impacto da pandemia do COVID-19 na indústria de alimentos.
Este é o momento de usar esta ansiedade a seu favor, para movimentar as peças do tabuleiro. Do ponto de vista dos visionários de alimentos, é hora de olhar para dentro de si e entender como suas competências profissionais e pessoais podem ser “embaladas” em outro tipo de pacote que não o acordo tradicional com o mundo corporativo.
O futuro em que ninguém mais vai precisar trabalhar ainda existe. Enquanto ele não chega, talvez tenhamos que começar a pensar se existe vida fora do mundo corporativo. E, se a demissão enfim acontecer, existe aí dentro valor que pode ser entregue de outras formas ao mundo.
Disso, eu sei.
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