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Sonhar grande dá o mesmo trabalho que sonhar pequeno, não é?
E por que não sonhar com um melhor relacionamento da indústria de alimentos com seu consumidor, sendo transparente e trazendo segurança e confiabilidade? Esse é um dos sonhos da Não de Queijo.
E o sonho não precisa ser só um, eles também querem fazer com que as dietas de restrição deixem de ser um motivo de exclusão na vida das pessoas.
E para isso, antes de qualquer coisa, eles foram entender os consumidores de seus produtos e viveram na pele, o que ter uma alimentação diferente. A Edinere e o Paulo nos surpreendem nessa jornada de empreendedorismo, com suas descobertas, aprendizados e paixão pelo negócio.
Entrevista com a co-fundadora, Edineri Smaniotto
Eu sou farmacêutica e o Paulo é engenheiro mecânico. No final de 2014, devido à situação econômica do país e a um acidente que afastou o Paulo por um período longo, ele foi desligado da empresa em que trabalhava. Nosso casamento estava marcado para fevereiro de 2015 e nossa proposta era fazer todos os doces da festa.
Nós dois tínhamos afinidades com a culinária, o Paulo já tinha feito curso de Chef em 2003 e durante o ano de 2014 tínhamos feitos vários cursos juntos na área. A experiência de trabalharmos juntos fazendo algo que gostávamos foi muito produtiva e sentimos que surgia aí uma oportunidade.
Depois do casamento começamos a trabalhar com pratos italianos congelados de maneira informal, mas não era exatamente o que queríamos. Então começamos a buscar alternativas, com pratos congelados e sem glúten, foi aí que nasceu o Não de Queijo.
A ideia do Não de Queijo surgiu entre maio e junho de 2015, quando buscávamos algo mais alinhado com nossos ideais. Queríamos um produto que atendesse à uma necessidade do consumidor com restrições alimentares, e que pudéssemos torná-lo disponível e acessível. E ainda, gostaríamos de estar envolvido em uma mudança no relacionamento do consumidor com a indústria de alimentos, para trazer maior confiabilidade e segurança ao segmento em que pretendíamos atuar.
Eu passei dois meses desenvolvendo a receita e consegui uma qualidade sensorial muito boa. Nós também aderimos à dieta de restrição para perceber a real dificuldade dos indivíduos com condição de saúde que não podem consumir glúten.
O próximo passo já era mais complicado, o desenvolvimento do plano de negócios, o planejamento de instalação de planta produtiva, previsão e controle dos riscos, as análises de mercado e efetivamente chegar às perguntas corretas que seriam respondidas pelo produto. O fato de termos optado pela fabricação de um produto livre de glúten e diversos outros alergênicos também trazia em si algumas dificuldades. Foi preciso começar direto em um prédio próprio para esse processo, com equipamentos e materiais novos, toda a adaptação aos requisitos sanitários e aos diversos controles de rastreabilidade, que já havíamos definido que queríamos.
Nossa ideia era ter um processo o mais próximo possível de atender a ISO 9001, desde o começo.
Temos 2 grandes sonhos.
Um é mudar de alguma forma a maneira que com nos relacionamos com os alimentos industrializados. E quando digo industrializados, quero dizer qualquer alimento que passe por um processo de beneficiamento antes de seu consumo. Ter mais informações disponíveis a respeito não só dos ingredientes, mas também dos processos. Nos ingredientes e rótulos já são sensíveis as mobilizações e evoluções conseguidas nesse campo nos últimos anos, mas ainda há muito a melhorar. Mas sobre o processo hoje é quase inexistente qualquer informação a respeito, e é muito comum que não saibamos o que acontece com os alimentos que compramos. Estamos trabalhando para oferecer a maior transparência possível para nossos clientes e consumidores sobre absolutamente tudo que acontece na nossa cadeia produtiva.
O outro é levar opções de alimentos seguros para pessoas que tenham algum tipo de restrição alimentar, patológica ou ideológica. Que estes alimentos sejam acessíveis a todos os paladares, para haver o compartilhamento de alimentos durante uma refeição, deixando de lado a segregação que as restrições alimentares podem gerar no momento da refeição.
É muito legal, porém desafiador. Ser empreendedor não é uma tarefa fácil. Grande parte das obrigações legais, às vezes, são obscuras e de difícil acesso. Porém, empreender também permite criar produtos e tocar o negócio alinhado com seus valores, e isso não tem preço. Ter a oportunidade de comercializar algo que você acredita e realmente compraria, quando visse numa gôndola, é muito gratificante.
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Os maiores desafios são os fornecedores. Encontrar empresas que estejam comprometidas com os alergênicos, e que tenham condições comerciais viáveis para nossa estrutura, é o maior desafio para conseguir trazer os projetos da bancada para a linha de produção.
Hoje existe uma lacuna muito grande no mercado de restrições alimentares. A sensação que dá ao ver a grande maioria dos produtos nas gôndolas é que as empresas precisam desesperadamente desenvolver um produto para este segmento.
Porque existe demanda, porém o que vemos hoje, tem um sabor muito ruim.
Grande parte das pessoas com dieta de restrição conhecem os produtos tracionais, e veem a grande diferença entre eles. Conseguimos desenvolver um produto muito similar, e isso remete às memórias afetivas das pessoas.
Muitos clientes nos relatam que seus familiares que não tem restrição alimentares já aderiam ao nosso produto também, e hoje preferem ele ao tradicional. Isso resgata os laços familiares que, muitas vezes, durante o compartilhamento de uma refeição, podem ser perdidos, quando alguém da família possui restrições. É muito emocionante ouvir dos nossos consumidores que eles retomaram esse momento de compartilhamento na vida deles.
Começamos do zero, quando iniciamos não sabíamos nem como criar um plano de negócio. Precisamos estudar um pouco para entender melhor as questões comerciais de uma empresa e o financeiro. Porém o Paulo já tinha experiência com Lean Manufacturing, ISO e várias outras ferramentas de gestão de indústria. Isso nos ajudou muito a estabelecer todos os processos dentro da empresa.
O capital inicial foi próprio, vendemos o carro, começamos a tirar a ideia do papel e fomos até onde conseguimos. Os primeiros anos do negócio são bem duros e alguns passos necessitam de investimento. Em diversos pontos fomos atrás de investidores para conseguir ir em frente.
Hoje nosso processo de P&D começa na empresa, identificamos vazios no mercado e trabalhamos nos projetos de desenvolvimento. Quando temos um produto que atende às características básicas que queremos, rodamos um lote piloto e distribuímos para alguns consumidores e clientes. Os ajustes são feitos de acordo com as observações resultantes deste processo.
No próprio Não de Queijo, ainda fazemos ajustes de acordo com a voz do consumidor, para nós a melhoria continua é muito importante.
Quando chegamos à fórmula final do Não de Queijo, não havia dúvidas de que deveríamos colocar o produto no mercado, estávamos muito confiantes. Os riscos são inerentes à operação e vão sempre existir, são ótimos balizadores do negócio.
Acreditamos que a única maneira de mudar as coisas é fazer diferente e vemos diversos empreendedores fazendo diferente também, essa foi uma pista de que estávamos no caminho certo e deveríamos ir em frente.
A cada melhoria tínhamos a expectativa de facilitar as coisas, podemos mudar tal processo para levar menos tempo, podemos trocar de máquina para dar menos trabalho… cada uma dessas mudanças trouxe consigo oportunidades.
A cada passo desses, o negócio cresceu e o trabalho veio junto. A lição que fica é seguir em frente, o mercado não para, temos que estar o tempo todo atentos, atualizados e prontos para ir a diante.
Não fica mais fácil, nunca!
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Estamos mapeando a inovação de alimentos realizada por empreendedoras e empreendedores visionários no mundo todo. Negócios que buscam novas relações com a comida, com o usuário, com a natureza e com o dinheiro serão capazes de mudar também o que o público pensa da indústria de alimentos.
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