Receba insights e boas práticas sobre inovação de alimentos
Preencha o formulário abaixo e receba conteúdo exclusivo sobre inovação de alimentos
Preencha o formulário abaixo e receba conteúdo exclusivo sobre inovação de alimentos
Eu trabalhei cerca de 15 anos com na indústria de ingredientes para alimentos, sempre com pesquisa e desenvolvimento. O ponto alto do meu ano, em qualquer das empresas em que estive, era preparar o que iríamos servir nas feiras de negócio do setor: definir lançamentos, testar aplicações, criar conceitos criativos e chamativos, que chamassem a atenção dos nossos clientes e os fizessem entrar, sentar e degustar nossas ideias.
Eu amava criar estas aplicações, porque era um dos únicos momentos do ano em que a criatividade podia rolar soltar. Era neste período que eu realmente me sentia inovadeira.
Alguns clientes me diziam que entravam no stand das empresas em que eu estava porque haveria propostas criativas. Eu acreditava que, no meio do burburinho da feira, e com tantas opções de degustação facilmente realizadas nos stands ao nosso redor, somente conceitos realmente surpreendentes seriam degustados.
Eu não poderia levar mais uma salsicha com um novo condimento para a feira. A salsicha tinha que ser de frango, sem sais de cura, com espinafre aparente e vinho. A ousadia atrairia o cliente para a degustação, e então poderíamos falar sobre a linha de condimentos que estavam sendo lançados.
Contudo, como já contei aqui, poucas vezes estes lançamentos das feiras, pelos quais nossa equipe tinha sido tão elogiada, geravam vendas. Passado a energia da feira, seguiríamos, no restante do ano, fazendo os mesmos contratipos e reduções de custo de sempre.
Influenciar uma empresa a desenvolver um produto a partir de conceitos apresentados em feita é uma arte. Ou uma ciência oculta.
Quando lancei o Sra Inovadeira, vinha com esta bagagem. Eu entendia bem de ingredientes, e de como este mercado se movimentava, e vivia o mundo das grandes empresas de alimentos.
Eu me enxergava como uma pessoa inovadora.
Ao menos, criativa. 😛
Eu me afastava das grandes empresas, e começava a me aproximar dos pequenos empreendimentos. Por um lado, continuava a ter contato com todos aqueles pesquisadores de alimentos que conhecia (todos os que sabiam o que P&D significava). Por outro, entrava em contato com empreendedores que nunca haviam pensado no processo de desenvolvimento de produtos – eles apenas lançavam suas ideias e pronto.
Nesta época, eu mantinha uma coluna para responder às perguntas dos leitores: Sra Inovadeira Responde.
Uma das primeiras perguntas que respondi foi “como eu arrumo fornecedores se sou uma pequena empresa”. Eu sabia do que aquela empreendedora estava falando: por anos, as empresas em que trabalhava tinham negado pedidos de clientes que não atendiam a um volume mínimo. Mesmo quando estes pedidos eram justamente dos ingredientes megacriativos que havíamos passado meses desenvolvendo proativamente. Menos do que um saco de 25kg, não tem venda.
Um saco de 25kg de um ingrediente usado a 1% pode demorar 12 meses para ser consumido, caso a empresa produza 200 kg/mês. É um investimento e tanto para quem está começando.
A tentativa de resposta passou por procurar distribuidores e por formar uma cooperativa de compras. Em ambos os casos, colocando na mão do pequeno empreendimento a responsabilidade por sua pequenez. Respondi algo como “a indústria é assim”, tente dar seus pulos.
Não sei o quanto ajudei.
Afinal, nem todas as empresas têm distribuidores, nem todos os distribuidores têm cobertura nacional. Nem todos os distribuidores fracionam, então o problema do saco de 25kg permanece. Cooperativas de compra são realidade em muitos lugares, mas precisam ser formadas – o que exige um pouco de capacidade colaborativa, que sabemos que não é o forte do empresariado brasileiro.
Quando comecei o Sra Inovadeira, eu também sabia que o mercado brasileiro de alimentos não lá era muito inovador. Mas foi ao adentrar neste mundo de inovação de alimentos que comecei a ver o que a minha experiência corporativa me impedia até então: sim, MUITA inovação estava rolando.
Produtos excitantes, conceitos surpreendentes, embalagens criativas abundavam. Tinha uma galera querendo mudar e romper o status quo. Muitas empresas estavam trazendo ao mercado produtos diferenciados e cheios de personalidade.
Todas pequenas. Todas BEM pequenas.
Comecei a perceber que o que eu via nas feiras de negócios e o BNDES confirmava nos seus relatórios– que a indústria de ingredientes inovava mais do que a de alimentos – não era bem verdadeiro. Sim, havia inovação na indústria de ingredientes. Mas, sim: HÁ muita inovação na indústria de alimentos.
Só não onde normalmente procuramos.
Não onde o BNDES procura.
Não andando nos corredores das feiras de ingredientes.
Não nas empresas cheias de dinheiros para terem times gigantes de P&D e Marketing.
Não nas capas de jornal.
A inovação de alimentos não acontece na Big Food – salvo raríssimos e louváveis exemplos.
A Big Food (de modo geral) está preocupada com outras coisas mais mundanas do que trazer ao mundo produtos cheios de diferenciação. Ela está mais preocupada com pagar as contas, manter os executivos nos seus cargos e reduzir o risco de virar Little Food.
(A APAS Show 2017 trouxe inúmeros exemplos do que estou falando.)
Para dar uma colher de chá à Big Food nacional, ela não está sozinha. O mundo inteiro vê esta estagnação de camarote, e até seus executivos de inovação reconhecem a visão de retrovisor que é intrínseca à sua estratégia de lançamento.
Sim, Sra Inovadeira, e o que isso tem a ver com a inovação na indústria de ingredientes?
Ora, Pequeno Padawan, se ainda não ficou claro para você, eu esclareço.
Essa inovação toda que a indústria de ingredientes traz ao mercado é destinada a quem?
Quem usa aquelas novas moléculas – não! TECNOLOGIAS – descobertas pelas Casas de Aroma?
Quem aplica os conceitos de ingredientes clean label que levaram anos de pesquisa?
É um paradoxo que a indústria de ingredientes invista tanto dinheiro em atividades de P&D – a média está em 1,5% a 3% do seu faturamento – para abastecer uma Big Food que não inova.
Concorda?
Aí, lá do outro lado, temos um outro paradoxo.
É um paradoxo que pequenos negócios de alimentos criativos criem produtos inovadores e superantenados com as necessidades específicas de seus usuários, completamente sem apoio de um parceiro que teria as soluções para os seus desafios tecnológicos.
É só você andar pela FISA – como eu venho andando e expondo nos últimos 12 anos – para perceber: estes empreendedores dificilmente estão lá. Um ou outro gato pingado aparece, mas tem até dificuldade em ser atendido, de tão pequeno que é.
Eles nem conhecem a indústria de ingredientes.
Cito empresas de ingredientes para estes empreendedores, e eles me torcem o nariz, tomando todos os ingredientes por químicos não naturais, contrários aos seus propósitos superiores de trazer ao mundo alimentos saudáveis.
Ledo engano.
Mal sabem eles que existe uma indústria criativa, inovadora, antenada com as tendências de consumo, e pronta para resolver os problemas que encontram nos seus produtos.
Culpa deles?
Em parte, sim. Conhecer o ambiente em que se empreende é sim uma das necessidades do empreendedor. Entender de legislação, rotulagem, cadeias logísticas, vendas, marketing de alimentos, saber desenvolver produtos e os produzir: entender quem são os atores e processos de alimentos é uma necessidade do negócio.
Por outro lado, eu fico aqui me perguntando:
Ou será que está apenas participando dos lançamentos tímidos e bem incrementais que a Big Food tem feito?
O que mais vejo são dois mundos bem distintos e distantes: um, no qual a indústria de ingredientes habita, e que é marcado por um esforço descomunal de P&D, Marketing e Vendas para influenciar a Big Food a testar as suas soluções inovadoras.
E outro, no qual os negócios criativos de alimentos transitam, marcado por soluções adaptadas, desconhecimento de tecnologias de ingredientes e alto nível de experimentação. É neste mundo que a inovação de alimentos rola solta, joga bonito, falha rápido e continua testando. É neste mundo que empresários e empresárias se interessam por conceitos modernos, rompem com o status quo: é por aqui que estão sendo desenvolvidos e lançados os alimentos mais emocionantes para o consumidor atual (e não para quem ainda tem o padrão de consumo da minha avó).
Tenho feito questionamentos como este para Altos Executivos do setor de ingredientes.
Eu quero saber como esta indústria está se posicionando frente aos novos negócios criativos. Quero saber quem se aproxima, e como se aproxima. Quem encontra soluções para a logística de baixas quantidades. Quem aposta em usar os seus centros de tecnologia em negócios que são ainda sementes.
Quem já se deu conta de que o mercado de alimento está passando por uma transformação – e uma marcante pulverização – está tateando as suas soluções. Alguns têm respostas bem interessantes, como uma empresa que investe junto com as startups em que acredita, e também viabiliza a produção dos seus alimentos.
É um modelo em que a startup reduz o aporte de capital típico da indústria de alimentos, enquanto conta com a experiência de mercado do parceiro de ingredientes. A indústria de ingredientes, por seu lado, tem a oportunidade de ganhar negócios promissores no seu início, e estimular que eles cresçam. Exige esforço, um monte de flexibilidade (inclusive no parque fabril), paciência e muita coragem: nem todos os negócios decolam.
O fato de que o projeto é capitaneado por um dos fundadores não é coincidência: o risco é mais facilmente assumido por um executivo ou executiva que não tem perigo de ser demitido.
É um caso único.
A maior parte da indústria de ingredientes, por mais inovadora que se posicione tecnologicamente, ainda segue no velho modelo de negócio de atender à Big Food. O maior objetivo segue sendo ganhar uma destas contas suculentas, de milhares de toneladas de ingredientes.
Será que a indústria de ingredientes inova?
Enquanto ando nas feiras de ingredientes, vendo ano após anos exatamente as mesmas caras nos corredores, eu me faço esta pergunta.
Podemos falar que há muita inovação tecnológica.
Mas pouca no modelo de negócio.
Como disse a professora Cecília D’Alessandro no Horizonte 18 Food, inovações têm que ser significativas e ter impacto. De nada adiante ter desenvolver algo surpreendente e morrer de amores pela nova molécula, se ela não interessa ninguém, e não é aplicada. Você pode ver ver os melhores momentos do Horizonte 18 Food neste post no site da Tacta Food School.
A sua empresa de ingredientes tem um modelo de aproximação de negócios pequenos – realmente pequenos, em fase inicial, que consomem no máximo 20kg POR ANO do ingrediente que você produz? Manda para mim: eu quero conhecer estes projetos e trazer luz para este mundo.
Você possui um novo negócio criativo na área de alimentos e ele merece ser mais conhecido? Nós estamos mapeando a inovação de alimentos! Entre em contato para marcarmos uma entrevista 😉
Juntos podemos causar um grande impacto através de pequenas ações: compartilhe e espalhe a mensagem.
E mais: participe da comunidade privada de +12000 visionários de alimentos que recebe dicas e insights exclusivos.
Sem spam. Só inovação.
Oi Cristina
Quando a indústria de ingredientes vive de produzir formulações tailor made é natural ir atrás das grandes contas.
No meu ramo de enzimas industriais são produzidas e purificadas centenas de novas enzimas cujas quais os fornecedores não tem a mínima ideia para que servem, além das óbvias aplicações tradicionais.
Faltam técnicos no desenvolvimento de novas aplicações tanto quem compra e quem vende. Novos projetos? É muito mais demorado e complexo.
Mas para mim está ótimo rs.
Então, são mil as caras da inovação. Ahhh!!! quanto o conceito é usado em vão :-(. Apenas como degustação, duas declinações:
1- Inovação Tecnológica: implica pesquisa básica, cientistas mesmo, grandes investimentos. É bastante lógico que procurem por volume. E isso está normalmente nos produto consagrados, tradicionais que oferecem desafios (redução de açúcar, por ex) então, lá vão direcionada a artilheria pesada
2- Inovação “criativa”: não é que a outra não seja, mais aqui entra o que chamo a sacada do obvio. Não precisa de grandes tecnologias mirabolantes e, no entanto, mexe com mercados inteiros, costumes e até cultura. Vou mostrar exemplos no HORIZONTE 2019
entre outras