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NADA É ÓBVIO NA ANTROPOLOGIA – NEM EM ALIMENTOS

Postado em 12/03/2024 por Ana Carolina Rodrigues
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Um professor meu uma vez me disse que nada é óbvio na antropologia. Segundo ele, não podemos deduzir uma verdade completa sobre um povo, um grupo ou uma pessoa tomando como base somente aquilo que observamos em um primeiro contato. Claro, a observação participante (o ato de participar ativamente do meio do objeto estudado) é a metodologia de trabalho principal do antropólogo mas, como seu próprio nome diz, ela não pode ser apenas fundamentada na observação. Conforme participamos e interagimos com o campo que estudamos, vamos desvendando a verdade que nos é permitida observar. 

No momento em que a ouvi, a afirmação de meu professor me pareceu, ironicamente, óbvia. Mas conforme progride minha formação como antropóloga, cresce também a minha vontade de apontar, questionar e compreender obviedades e padrões que inevitavelmente surgem quando saio da sala de aula e exerço minha profissão no mundo real, usando como referência o objeto básico do meu ofício que é a interação entre indivíduos, cultura e sociedade.

Claro que eu não estou querendo dizer que meu professor estava errado, mas certos conceitos me parecem bem óbvios. O mais evidente deles é a relação de todas as culturas com a comida.

Em “Estruturas Elementares do Parentesco” – uma bíblia antropológica em muitos sentidos, inclusive tamanho -, Lévi-Strauss aponta como um dos motivos para a organização dos indivíduos em sociedade a necessidade de garantir a seguridade do alimento, produção e compartilhamento. Ainda falando de Lévi-Strauss, em “O Cru e o Cozido”, ele utiliza a comida para exemplificar os polos opostos de natureza e cultura, o primitivo e o civilizado, afirmando que o que diferencia os homens dos animais é justamente a forma de se alimentar. 

É junto ao fogo que as mulheres Mbyá-Guarani preparam as refeições oferecidas para a família e os visitantes. É comum assar os alimentos diretamente sobre a brasa e compartilhá-lo com todos, uma forma de relação ancestral, que se perpetua entre as gerações.

Em meu primeiro estágio como estudante de antropologia, no Ministério Público Federal, foi onde parei pela primeira vez para refletir sobre a inevitável relação da comida com o trabalho do antropólogo. Não havia uma aldeia indígena, nem comunidade quilombola, onde eu chegasse e não me fosse oferecido um lugar ao fogo ou embaixo de uma árvore, para comer um pedaço de batata doce assada, bolo de fubá, uma tigela de mingau, uma vez na roda de chimarrão etc. Todas as conversas, entrevistas e interações eram, de uma maneira ou de outra, mediadas pelo alimento e pela partilha daquele alimento tradicional. O motivo de minhas visitas a estes locais eram, em boa parte, disputas por terras que permitissem a manutenção do estilo de vida e da produção tradicional de alimentos. 

Nesse novo ciclo na Manbu, junto à Sra. Inovadeira, minha primeira atuação como antropóloga formada, consigo identificar essa correlação com muito mais clareza, mas ainda arrisco ir além. Entrar para o mundo da inovação em alimentos vem sendo uma experiência antropológica  riquíssima, pois é aqui que consigo ver como nossa cultura e tradições moldam novas formas de imaginar o alimento não apenas como a obviedade da cultura. Algo que sempre vai estar lá, mas quando ativamos a criatividade e deixamos nossa mente reimaginar o tradicional, subvertemos o óbvio da alimentação, ao mesmo tempo em que mantemos seus significados, criamos novos, imaginamos novas formas de produzir, experimentar e compartilhar.

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Espero aqui poder compartilhar o olhar antropológico sobre o mundo dos alimentos, a correlação da comida com o cotidiano e, principalmente, os laços presentes entre o mais banal dos hábitos com o mais complexo significado cultural que possa existir por trás do ato de realizá-lo, pois a obviedade está justamente no ato mais simples e em algo que une todos nós: a comida.

Ana Carolina é Head de Pesquisa na Manbu, a consultoria em Inovação Estratégica e Pesquisa de Comportamento Alimentar da Sra Inovadeira.

Nossos projetos unem a Engenharia de Alimentos, Food Design e Antropologia para apoiar marcas a lançar novos alimentos e negócios antenados com a cultura alimentar atual.

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2 respostas para “NADA É ÓBVIO NA ANTROPOLOGIA – NEM EM ALIMENTOS”

  1. Bruna Pereira disse:

    Que frescor esse texto! Como nordestina, o compartilhar sempre é marcado com a oferta generosa de uma umbuzada com um pão de lenha ou até um café com sequilhos e geleia de maracujá do mato…para quem recebe essa dádiva as vezes não imagina como esses alimentos trazem a marca da vida de muitos sertanejos que em meio a caatinga ou semiárido coexistem e não desanimam da sua história, da sua comida, da sua terra. Esta terra que transforma escassez na alegria de um umbuzeiro carregado.
    Ana, obrigada. Sigo refletindo!

  2. THAYNA DE PAULA ALVES disse:

    que legal

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