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MEUS APRENDIZADOS EM INOVAÇÃO DE ALIMENTOS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS

Postado em 26/02/2021 por Cristina Leonhardt
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Hoje o Sra Inovadeira faz 5 anos. ?

Quem diria que uma ideia gerada num quarto de hostel em Xi’an viraria tanta coisa, não? Nem minha mãe acreditava – meu pai, então, quase enfartava no início, ao ver a filha formada engenheira, tantos anos de carreira, sentada na cozinha da sala, escrevendo, escrevendo, escrevendo.

Eles, é claro, na época com cerca de 60 anos, não concebiam esse modelo de trabalho. Eu estava ali, plantando muitas sementinhas que esperava que germinassem mais tarde – o trabalho de geração de conteúdo é esse. Há 5 anos atrás, quando tudo isso aqui era mato, e só existia um ou dois sites focados em conteúdo na área de alimentos, eu era realmente uma pessoa fora da curva.

Eu mesma acreditava muito, mas trabalhava mais ainda para superar minha síndrome do impostor. Demorei a colocar uma foto minha no site, com medo de que alguém viesse me apontar o dedo na cara e dizer que eu não tinha propriedade para falar sobre inovação em alimentos (duas pessoas fizeram isso até hoje ?).

Nos primeiros anos do site, era normal comum ter mais de um post por semana – às sextas saía a coluna Sra Inovadeira Responde, conteúdo em texto e vídeo que dava um trabalhão fazer. Às quartas eram os posts mais focados em P&D ou inovação. Os que mais geravam discussão eram justamente os menos técnicos, mais inspiracionais. Quanto mais eu colocava o dedo virtual na sua cara, mais o povo parecia gostar. Mas que tipo de texto era aquele? A resposta veio quando um leitor me disse que amava minhas provocações: nascia a coluna Provocações da Sra Inovadeira.

E nesse mestrado ao vivo e a cores, mais polêmico que o BBB e mais cheio de opinião que o Felipe Neto, eu fui aprendendo muito sobre inovação de alimentos. Sou completa CDF – coisa que você deve perceber pelo número de artigos que eu vou linkando nos textos. Não me satisfaço com percepções e suposições – o mundo já é cheio de achismo demais, não é, cloroquiners? ? Então o aprendizado foi um tanto de leitura, outro de experiência, mais um bocado de cases que fui conhecendo no caminho.

Plena no Horizonte 20 Food. Já te inscreveu para o evento deste ano?

Muita coisa mudou na minha mente desde que comecei. Apesar que algumas visões permanecem firmes (precisamos ser mais transparentes), outras não resistiram ao crivo do tempo e da realidade.

Quero compartilhar com você o que eu achava que era inovação de alimentos, e o que eu acho agora a respeito. Quem sabe você também mudou de ideia nesse período, né non?

Eu achava que inovação de alimentos era fazer produto diferente. Hoje eu acho que é fazer produto igual, diferente.

Eu claramente havia trabalhado a minha carreira toda com P&D de produto, então inovação para mim era fazer produto diferente. Quanto mais diferente, melhor – como o patê de carne verde com sabor de abacaxi que eu convenci a minha empresa à época expor numa feira. Eu era louca, mas não do tipo certo.

Ao longo dos últimos anos, eu tenho cada vez mais entendido que em alimentos a inovação reside muito menos no produto em si, na sua composição, do que na sua forma de obtenção, no seu processo e nas formas com que ele chega no usuário final. Somos mega conservadores em alimentos (e eu sempre pude atribuir a isso o fato de que pouca gente sequer provou a minha “super” inovação na feira – ufa!). Movimentos de mudança na composição precisam ser feitos aos poucos, lentamente, como alguém que manobra um transatlântico para atracar no porto. Para fazer o povo comer “carne” vegana (ou análogo à carne, ou o que você achar certo falar, não brigaremos aqui por pouca coisa), ela tem que estar no formato do familiar hamburguer.

Bem, hoje eu acho que o máximo da inovação de alimentos é fazer o mesmo produto, igualzinho, ele mesmo que a gente sabe qual é e já comeu mil vezes na casa da vó, mas diferente. Resolvendo a quantidade de gordura trans que ele sempre teve. Resolvendo o resíduo que ele sempre gerou. Resolvendo a densidade nutricional que sempre foi baixa. Resolvendo o que se sabe lá que ele tinha que não era bom – inclusive o custo, né non, carne vegana?

O segredo está em fazer o que a Wickbold fez, ou a Irati fez e entregar comida reconhecível como comida até pela minha falecida vó (qualquer uma das duas). Mas diferente, porque é para mim e não para elas.

Eu achava que inovação de alimentos era a saída para todas as empresas. Hoje eu acho que ela só serve para quem entende o jogo.

Já houve momento em que eu pensei que a inovação era a saída para todas as empresas, que todo mundo deveria se organizar (e isso não quer dizer pintar as paredes de amarelo e colocar um avião pendurado no teto) para inovar. Que todo mundo se beneficiaria deste movimento.

Já não penso mais assim.

Eu percebi que para certas organizações, mesmo o que é chamado de “inovação” é uma commodity. Nada pode ser muito diferente e o que é diferente causa um incômodo e um estrago tão grandes que melhor não fazer.

Tá certo que não é fácil ser um visionário de alimentos nestas empresas. Às vezes, melhor nem tentar. O tanto de empresa que simplesmente desligou o P&D durante a pandemia me mostrou o nível em que trabalhavam.

É claro, para a organização certa, capaz de aprender, mente aberta, com gente de cabeça fresca, a inovação é um processo contínuo e muito produtivo. Quem entende que o jogo não é só ganhar, mas perder algumas vezes, balanceando algumas perdas entre muitos ganhos, tem sucesso no jogo. E nem sempre sucesso é ganhar.

Eu achava que a saída da inovação eram as foodtechs. Hoje eu acho que as foodtechs precisam ser mais tech para serem chamadas de inovadoras.

5 anos atrás, quando eu era mais xóvem (e mesmo assim não teria me aglomerado numa pandemia de um vírus) eu ficava deslumbrada cada vez que eu conhecia os fundadores de uma foodtech.

Aliás, fundadores mesmo, porque todos era assim:

Galera topzera, só faltou a camisa preta

Eu achava que a saída da inovação estava nas pequenas empresas, mais flexíveis e mais abertas ao risco. Achava que ali a gente encontraria a solução para todos os males da Big Food que não inovava e que estimular a inovação era estimular estas empresas.

Ah, a ilusão da juventude.

A gente se esquece que nem todo mundo quer inovar. Que a Big Food que não inova já foi Small Food e quando nasceu já assim, paradona, centrada no que é seu. Ao crescer, só abriu os braços e ganhou em politicagem interna.

Tem Big Food que inova, e se inova, inova desde o berço.

Tem muita foodtech que de tech não tem nada. Todo mundo “mudando o mundo”, mas fazendo igual ao que sempre se fez. Colocando produto ruim no mercado, colocando produto inseguro no mercado, colocando produto nada a ver no mercado. Cabeças velhas em cima de ombros jovens, vejo demais.

Tem alguns casos que podemos chamar mesmo de footech. Mas são poucos. O resto é só empresa de alimentos iniciante que fica surfando na onda para ver se ganha atenção da mídia.

Eu achava que qualquer pessoa poderia fazer a roda da inovação girar numa empresa. Hoje eu digo: encontre a sua turma.

Nem toda a empresa é inovadora e nem toda empresa pode ser inovadora. Visionários e visionárias de alimentos têm que encontrar a sua turma: aquela organização cujo nível de inovação seja aquele com que se sentem confortáveis.

Quem curte um frio na barriga não pode trabalhar com commodities, porque se frustra. Se a sua empresa ganha muito dinheiro vendendo carne, grãos, leite, açúcar, arroz e outros itens básicos da despensa, corre que é cilada, Bino. Ela até pode montar uma área de inovação, fazer cartaz bonito no Marketing para espalhar pela empresa quão inovadora é, e falar para os acionistas que coloca muitos dinheiros em atividades de P&D – mas é tudo fumaça. Executivas e executivos ali estão tão acostumados no jogo do volume e da segurança de demanda, que ao primeiro balanço de um projeto inovador, abandonam o barco.

Com você sozinho no meio do oceano, produto na mão, dois analistas remando cada um para um lado e um estagiário fazendo sinal com espelho na mão, esperando para serem resgatados pelo barco do Comercial.

Hoje eu digo: quer inovar? Olhe bem o modelo de negócio da empresa e não espere apanhar maçãs de uma laranjeira. Dá para fazer uma árvore enxertada? Dá para plantar uma macieira ao lada da laranjeira?

Dá.

Mas tudo isso leva tempo e requer esforços, enquanto a sua vida e a sua carreira acontecem.

Eu achava que seria uma consultora. Hoje eu sou uma professora.

Eu me lembro claramente de ter o insight sobre o Sra Inovadeira e entrar no quarto do hotel falando para o meu companheiro: “é assim que eu vou me posicionar como consultora no Brasil! Com o site, eu vou ser conhecida além da minha bolha, vai ser ótimo. As pessoas vão ler o que eu escrevo e vão querer desenvolver produtos comigo.”

Criando o meu portfólio de fotos de consultora de inovação. Sente os óculos ?

Era assim que eu me via me posicionando na volta ao Brasil, como consultora. Acontece que se eu tivesse me prendido a este sonho, teria demorado muito para ter algum resultado – o primeiro trabalho como consultora só veio no final de 2016, quase 1 ano depois de ter lançado o Sra Inovadeira.

Muito antes dele, vieram vários trabalhos como professora: a maioria deles através do que era o iniciozinho da Tacta (com nota fiscal de MEI em papel, que eu emitia à mão no final dos cursos). Eu fui me posicionando muito antes como professora do que como consultora – e gostando demais daquilo que estava acontecendo.

Sim, no meu primeiro curso após Sra Inovadeira, eu usei uma tiara de Sra Inovadeira. Quem viveu, lembra.

Até que cheguei ao insight de que todo consultor é na verdade um professor – ou deveria ser. O intuito da consultoria é justamente criar condições para a empresa executar por si o trabalho: então tem que ensinar a fazer. Fora disso, é assessoria, é produto, é qualquer coisa que se entrega pronta. Mas consultoria, consultoria: tem que ensinar a fazer e um dia deixar a empresa (isso me ensinou meu sócio Dafné bem no início).

Então hoje eu sei que o Sra Inovadeira me abriu diversas portas – e todas elas foram através da educação. Um dos momentos mais marcantes desta jornada foi o primeiro módulo da Formação em Gestão de P&D, em que os alunos venceram seus medos, suas timidezes, suas crenças limitantes e formaram um coral lírico que se apresentou no lobby do hotel.

Que vocês continuem escutando do eco o som – como a nossa primeira turma da Formação em Gestão de P&D que arrasou no coral lírico

Depois disso, tudo era possível para esses alunos. E todos, sem tirar nem por, cresceram muito nas suas carreiras e vidas pessoais desde 2017 – não há maior recompensa para mim que essa.

Entrevista: os momentos mais marcantes dos últimos 5 anos de Sra Inovadeira

Na entrevista abaixo, eu compartilho os momentos mais marcantes do Sra Inovadeira nos últimos 5 anos.

Você fez parte deles? Conta para mim nos comentários deste post: qual foi o momento mais marcante para você?

Os próximos 5 anos

E eu ainda estou aprendendo e experimentando todas as possibilidades que este projeto me trouxe. A beleza do Sra Inovadeira para mim, uma polímata, é que posso esticar os braços para os lados que me fizerem sentido: como por exemplo agora, em que tenho trabalhado muito com pesquisa de mercado.

Nossos próximos projetos aqui no site vão explorar o futuro. O primeiro, conduzido pela colunista Raquel Logato, vai mapear as mulheres que fazem Inovação e P&D de alimentos no Brasil para o Mês da Mulher. Tá fácil, não é? A mulherada é maioria folgada em P&D. Na Série Elas, teremos 5 textos em março para falar de

Elas inovam / Elas comandam / Elas venceram / Elas estão chegando

Aguarde que este projeto está demais.

O segundo projeto, uma colaboração minha com a nossa chaveirinho Rebeca Leão, a melhor estagiária das galáxias ? (tira o olho!) é o projeto 99 Líderes. Vamos entrevistar 99 líderes em alimentos, de diversos olhares sobre o setor, para responder de forma rápida a uma pergunta singela: “qual é o futuro dos alimentos?”.

O conteúdo vai virar vídeo, artigos e podcast. Isso mesmo, teremos podcast! Adoooroooo.

E esse é só o futuro próximo. O que mais vem por aí nos próximos 5 anos? Só saberemos quando chegarmos lá – porque se há algo que eu aprendi nesse período é que quanto mais inovador é o projeto, menos eu sei sobre ele antes de começar a desenvolvê-lo.

E por aqui, a gente continua provocando a inovação. Obrigada pela companhia.

E por falar em projetos, um dos mais recentemente lançados é a newsletter Fagulhas, em que eu compartilho as notícias sobre o universo de alimentos, falando sobre Inovação, Novas Tecnologias, Legislação, Lançamentos, Fusões e Aquisições, Gestão.

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2 respostas para “MEUS APRENDIZADOS EM INOVAÇÃO DE ALIMENTOS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS”

  1. Francine Lima disse:

    Cris, aquele nosso papo no shopping Iguatemi foi transformador pra mim. Eu cheguei lá com medo. Eu morria de medo de sair do que eu pensava ser o lado branco da força. E foi você que me disse que isso não existe. Que eu poderia ter um papel num lugar que eu ainda achava que era meu inimigo. Estou numa jornada que nem te conto, de transformação interna, de busca de aprendizados de tudo que é fonte, pra me tornar alguém capaz de me conectar com o mundo. Não é fácil, não é linear, não é rápido, não é exatamente agradável. Mas é o que estou vivendo e acho que é o que preciso viver. E sua voz fala dentro de mim, como inspiração. Amo você por isso. Grata pra sempre.

    • Cristina Leonhardt disse:

      Nossa, Fran, eu me lembro bem deste dia e de que eu também tinha medo de que você não acreditasse que eu tinha intenções sinceras de mudar esse mercado. Mas que bom que ambas vencemos nossas barreiras e estamos aqui, anos à frente, ainda trabalhando para que isso aconteça. Obrigada mesmo pelo teu comentário!

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