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I’m back!!
Depois de um tempo longe das câmeras, retorno com uma entrevista super inspiradora que fiz com uma das empresas que conheci durante o IFT17 Expo & Annual Meeting chamada Nima Labs. Eles desenvolveram um dispositivo para detecção de glúten que é fácil de usar, rápido (resultados em 2 min!), pode ser transportado para qualquer lugar, acessível e, além disso, é bonito e divertido!
E, muito mais do que isso: é uma inovação mundial, com várias patentes registradas, e resolve um dos principais problemas de celíacos e intolerantes ao glúten: a falta de segurança e de informações ao comer alimentos fora de casa.
E eu te pergunto: quem não come fora de casa hoje em dia??
Para essas pessoas, a vida acaba girando em torno da comida. Eu não sou celíaca, mas tenho diversas intolerâncias, o que torna meu dia-a-dia bem mais complicado, minha alimentação restrita e o prazer de comer certos alimentos simplesmente desapareceu. Afinal, para comer sabendo que vou passar mal precisa valer muuuito a pena! Por outro lado, isso fez com que eu tivesse muito mais consciência e buscasse entender mais sobre ingredientes e diferentes preparações.
E essa foi uma das motivações da Shireen Yates, CEO e cocriadora da startup Nima. Ela é uma empreendedora que acreditou no sonho de resolver não só o seu próprio problema, mas o problema de muitas pessoas com doença celíaca e intolerâncias. Depois de 3 anos de desenvolvimento, a sua criação chegou ao mercado e, hoje, ela e o cocriador Scott Sundvor lideram uma equipe com aproximadamente 25 pessoas.
Por que eles tiveram uma sacada muito grande? Muito simples:
1) o número de alergias está aumentando cada vez mais sem a medicina ainda ter explicações ou soluções para isso,
2) cada vez mais as pessoas comem fora de casa e
3) em restaurantes, principalmente, é bastante difícil obter informações sobre alergênicos ou se assegurar de que não há contaminações.
A Nima teve essa sacada e veio para São Francisco, aproveitando a proximidade de experts na área de bioquímica e tecnologia, investidores com apetite para risco, experts em negócios, e mercado consumidor favorável – afinal, os californianos são os mais preocupados com alimentação saudável aqui nos EUA.
Segue a entrevista na íntegra e espero que seja um combustível para inspirar no seu empreendimento interno ou externo (o Igor, cofundador da Semente Negócios, fala sobre intraempreendedorismo nessa matéria muito interessante para a Sra Inovadeira).
Afinal, para inovar precisa-se ter uma cabeça de empreendedor, não é, Cris?! ?
Enjoy!!
<3
1) Fale para nós um pouco sobre a história da Nima, quando e onde a Nima começou, como surgiu a ideia, seus parceiros…
Shireen: A ideia da Nima surgiu para mim no verão de 2012, 5 anos atrás, quando eu estava em um casamento. Eu tenho diversas restrições alimentares, como com glúten e com soja, e é muito difícil para mim comer fora e me manter saudável. E mesmo entre meus amigos e a minha família começou a se ter uma visão de comida como medicamento e isso parece ser uma mudança de mentalidade, ao menos aqui nos EUA.
Em relação ao casamento, normalmente tenho que levar minha própria comida e, desta vez, eu esqueci. Então perguntei à garçonete se os aperitivos eram livres de glúten e ela perguntou qual era o meu grau de alergia. Neste momento, eu imaginei como seria se eu pudesse pegar uma amostra daquele alimento e ter o poder de ter essa informação nas minhas próprias mãos.
(Ela conta esta história no vídeo abaixo.)
Naquela época estava fazendo practice school no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e estava realmente focada buscando pessoas que pudessem começar essa empresa comigo e tocar essa ideia. Então encontrei o Scott (Sundvor) no MIT (Massachusetts Institute of Technology), que é nosso cofundador, que possui background em engenharia mecânica, bem como a nossa cientista líder, que é PhD em engenharia química. Então todos se reuniram para a levar essa ideia adiante.
Carin: E como vocês se conheceram e reuniram as competências necessárias para criar a Nima?
Shireen: Eu os conheci através de amigos e atividades em comum no MIT. Nós participamos de competições de negócios juntos, e o Scott eu conheci por amizades em comum.
2) Você é aqui da região? Como foi para começar uma startup aqui no meio do Vale do Silício? Você disse que a ideia surgiu no MIT (em Boston, CA)…
Shireen: Eu na verdade sou aqui da Bay Area, cresci na porção norte da baía de São Francisco, então foi como retornar para casa. Mas é o melhor lugar que poderíamos estar na perspectiva de talentos e investidores, considerando que há uma vontade maior aqui em investir em projetos mais arriscados. Em Boston há muita expertise em dispositivos médicos e aqui o forte é na parte dos consumidores. Então por isso nós achamos melhor nos estabelecermos aqui.
3) Qual é o tamanho da empresa hoje?
Shireen: Neste momento nós temos aproximadamente 25 pessoas, sendo que iniciamos com apenas 2. Então nós tentamos nos manter enxutos e grande parte do nosso time são engenheiros e pessoas na área de P&D e desenvolvimento. Alguns deles estão na área de operações, marketing e vendas. Nós também temos uma grande equipe de software que desenvolveu o aplicativo do dispositivo.
Carin: O dispositivo opera com um software?
Shireen: Sim, nós temos um aplicativo que permite ver o resultado de outros dispositivos da Nima. Você pode ver no mapa do aplicativo todos os lugares onde os alimentos foram testados. Dá para saber o local, que tipo de alimento foi testado, quais os resultados obtidos…
Carin: E qual a tecnologia para transferir esses dados?
Shireen: As informações são enviadas do aparelho via Bluetooth, que conecta com o aplicativo disponível no celular e que registra todos os resultados obtidos.
4) Você pode explicar como funciona o dispositivo?
Shireen: Claro, nós temos uma cápsula onde você coloca a amostra de alimento, mais ou menos do tamanho de uma ervilha. O ato de girar e lacrar a tampa da capsula permite moer a amostra de alimento e o romper o lacre que separa o alimento do liquido reagente. Essa cápsula é então inserida no dispositivo, que em alguns minutos faz a análise do resultado.
Carin: Como curiosidade, como você faz quando há um prato inteiro de comida para ser testado e você pode colocar apenas uma pequena porção como de o tamanho de uma ervilha?
Shireen: Nós não podemos garantir que todo o seu prato é glúten free, mas possui uma grande aplicação para molhos, marinados ou coisa que você precisa de informações adicionais. Você consegue colocar pequenas porções de todos os alimentos ali, mas pelo que estamos vendo grande parte das pessoas estão utilizando o dispositivo para alimentos específicos que têm interesse de obter maiores informações quanto a presença de glúten.
A Shireen fez uma demonstração do funcionamento do dispositivo, onde testamos um pequeno pedaço de barrinha de cereais. O processo foi muito fácil: tirei a tampa da cápsula, que possuía dentes tanto na porção superior quanto na abertura da cápsula, inseri o alimento, girei a tampa até o final, onde senti o rompimento do lacre que separava o líquido reagente – algo semelhante a água com sabão. Inserimos a cápsula no dispositivo, que possuía um pequeno motor que misturava a solução.
Carin: Eu vi que a cápsula possui um indicador bioquímico para a presença de glúten. Não seria suficiente apenas visualizar a coloração do indicador presente na cápsula?
Shireen: Na verdade não, porque às vezes a coloração é tão tênue que não pode ser vista a olhos nus.
Carin: O dispositivo está fazendo alguns barulhos diferentes… O que está acontecendo nesse momento?
Shireen: Ele está misturando e analisando a amostra para presença da proteína do glúten. O dispositivo externo não só analisa, mas também mistura a amostra e libera os líquidos reagentes, permitindo melhor mecânica.
5) Qual é a precisão do dispositivo quando comparado aos métodos tradicionais de detecção?
Shireen: Ele é bastante similar na concentração limite para ausência de glúten, que é 20 ppm, e para valores superiores a essa concentração.
6) Como foi o processo de aprovação do FDA?
Shireen: Nós não precisamos de aprovação do FDA porque o nosso produto não é considerado um dispositivo médico. A proposta é que o nosso produto sirva como um ponto de informação adicional para que ele possa basear melhor as suas escolhas.
Carin: E vocês chegaram a pensar na possibilidade de classificar como dispositivo médico?
Shireen: Sim, nós analisamos junto à equipe estratégica e somos muito abertos quanto a isso. Nosso objetivo principal é ajudar os consumidores na tomada de decisão, fornecendo uma informação adicional para que essas pessoas possam alimentar-se de forma mais saudável, evitando alimentos que os façam mal. Não damos orientações em relação ao que se fazer com o resultado obtido.
7) Quais foram os passos mais desafiadores para Nima em termos de tecnologia? Vocês obtiveram ajuda externa para desenvolver o produto?
Shireen: A parte mais desafiadora foi testar a acurácia em diferentes matrizes alimentares e, principalmente, introduzir um produto totalmente novo, que nunca existiu no mercado, ao público consumidor. Como mensurar os resultados dos testes de design, por exemplo, se é um produto totalmente novo no mercado? Então nós recebemos muita ajuda externa para o desenvolvimento de testes em relação ao design. Em termos de tecnologia, nós realmente construímos o produto em casa. Nós realizamos parcerias para produzir e dar escala ao produto. Mas em termos de design, nós fizemos tudo internamente.
8) A respeito do negócio, quais foram os maiores desafios?
Shireen: Primeiramente foi o desenvolvimento do produto e atender aos critérios que desejados, porque precisávamos que tivesse sensibilidade suficiente para diversos tipos de alimentos e preparações… Também do ponto de vista do consumidor ele precisaria ser robusto, e precisaria também ser capaz de ser utilizado em diferentes situações do cotidiano, não poderia funcionar como um laboratório… Isso foi desafiador na etapa de desenvolvimento do produto.
Do ponto de vista de negócios, é basicamente tornar o produto conhecido. Grande parte das pessoas não faz ideia de que esse produto existe, então precisamos nos assegurar de que estamos no lugar certo, na hora certa, quando as pessoas estão pensando em restrições alimentares.
9) Como está o mercado para produtos para alérgicos?
Shireen: Nos EUA, houve um crescimento de 50% no número de crianças com alergias nos últimos 15 anos. E também é uma questão global, não só de alergias alimentares, mas também doenças autoimunes, como a doença celíaca. Então as pessoas estão cada vez mais conscientes de como os alimentos estão afetando a sua saúde e encarando os alimentos como “remédio”.
10) A Nima conseguiu investimentos para seu funcionamento? A Nima já é financeiramente sustentável?
Shireen: Nós obtivemos recursos de private equity de venture capitalists e também recursos do National Institute of Health, do governo federal (veja a notícia aqui). Nós dependemos atualmente de financiamento externo, considerando que necessitamos de 3 anos para o desenvolvimento do projeto e lançamos o produto há menos de 1 ano.
11) Qual o preço do dispositivo eletrônico e das capsulas de teste?
Shireen: a cápsula tem um valor aproximado de 5 dólares e o detector custa 279 dólares. Você pode fazer uma inscrição mensal para receber pacotes com 12 cápsulas ao mês. Nós estamos vendo as pessoas usarem entre 1 a 2 cápsulas por semana.
12) Considerando o custo médio de um almoço ou janta aqui em São Francisco, algo em torno de 7 a 15 dólares, como está a aceitação dos consumidores quanto ao preço da cápsula?
Shireen: Nós estamos percebendo que os consumidores estão valorizando muito o produto e estão dispostos a pagar esse valor. E além dos dados obtidos na utilização do aparelho, as pessoas podem obter dados de outros lugares, de alimentos que outras pessoas estão testando. Pelo valor da assinatura você pode ter acesso a esses dados. Isso é muito válido quando você está buscando novos restaurantes, por exemplo.
13) Vocês possuem patentes do produto? Como foi esse processo, foi rápido, demorado?
Shireen: Sim, nós temos patentes e realmente esse processo leva bastante tempo. Nós temos pedidos e patentes provisórias para diversas áreas. Para o dispositivo realmente leva tempo até passar por todos os estágios. Mas você recebe feedbacks ao longo das etapas e isso é muito bom para a Nima, nós estamos empolgados, até porque temos um produto muito disruptivo.
Carin: E como foi esse processo de elaboração das patentes? Vocês fizeram internamente ou solicitaram apoio externo?
Shireen: Fizemos uma parte internamente e também tivemos ajuda externa para apoiar no pedido de patente.
14) Vocês têm planos de exportarem para o Brasil ou para outros países?
Shireen: Sim, nós realmente queremos. Neste primeiro ano estamos focando nos EUA, mas com certeza queremos expandir internacionalmente. Nós temos grande demanda do Brasil, Argentina, muitos países na América do Sul.
15) Essa ideia poderia ser expandida para muitas outras aplicações como outros alergênicos e, talvez, bactérias e vírus. Vocês estão planejando investir nessas áreas no futuro?
Shireen: Nós estamos desenvolvendo uma nova cápsula para outra substância alergênica. E o nosso objetivo final é conseguir analisar diversos tipos de alergênicos, ao mesmo tempo, na palma da mão.
Carin: Neste momento estão pensando somente em alergênicos ou em outros tipos de análises?
Shireen: Nós estamos interessados em açúcares, sal, e mesmo indo além, bactérias, como você disse, patógenos…
16) Você gostaria de nos falar algo a mais sobre a Nima?
Shireen: À medida que as pessoas vão se tornando cada vez mais conscientes de como os alimentos afetam elas, nós vamos precisar de mais informações sobre o que colocamos para dentro do nosso corpo. Muito mais do que um item do menu ou o rótulo contendo informações nutricionais… Então nós estamos animados por sermos um dos primeiros a fornecer essas informações. Eu acho que nós vamos ter uma exposição cada vez maior nos próximos anos.
17) Para finalizar, como foi pessoalmente essa experiência de criar a Nima?
Shireen: Tem sido uma jornada incrível… Me sinto muito grata por ter a oportunidade de levar isso ao mundo.
Mais infos em: https://nimasensor.com
A Nima já havia pintado por aqui no texto sobre Tecnologias Disruptivas para a Cadeia de Alimentos, como exemplo do uso da Internet das Coisas. Passa lá no post para continuar a leitura!
Estamos mapeando a inovação de alimentos realizada por empreendedoras e empreendedores visionários no mundo todo. Negócios que buscam novas relações com a comida, com o usuário, com a natureza e com o dinheiro serão capazes de mudar também o que o público pensa da indústria de alimentos.
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E sim: nós sabemos que 20ppm de glúten não é um patamar seguro para muitos celíacos e sensíveis ao glúten. O Nima coloca na mão do usuário a informação sobre o alimento, mas ele ainda não é perfeito. Esperamos que o limite quantificável reduza com o avanço da tecnologia.
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Incrível! Espero que venha ao Brasil o quanto antes e que no futuro tenham preços mais acessíveis. O importante é que o primeiro passo foi dado.
Concordo com você, Renata!