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Março de 2026 marcará uma importante virada na indústria farmacêutica no Brasil: a expiração da patente da principal droga agonista do GLP1-1 – a semaglutida, princípio ativo do Ozempic. Até lá, a produção e venda da canetinha que conquistou cantoras, atores e lideranças mundo afora é restrita à Novo Nordisk – um mercado estimado em 11 bilhões de dólares em 2025. Além do Ozempic, outras drogas competem pelo mesmo espaço de redução de peso: entre elas liraglutida (marca comercial Victoza), dulaglutida (Trulicity), exenatida (Byetta), tirzepatida (Mounjaro) e lixisenatida (Soliqua).
Desenvolvidas para o controle de diabetes, as canetinhas têm sido usadas para outro fim que persegue a humanidade no século XXI: o emagrecimento, com resultados tão visíveis que impulsionam ainda mais a disseminação do seu uso (vale lembrar que a visibilidade dos benefícios é um dos 5 atributos da inovação que afetam a sua difusão na sociedade). O fim da pandemia nos encontrou mais obesos, mais sedentários e mais sedentos por aceitação em uma vida social ativa – cenário perfeito para todas as soluções que prometem corpos perfeitos.
Especialmente no Brasil, não é? Uma pesquisa realizada com cerca de 11.500 pessoas brasileiras entre 35 a 59 anos mostra que 85,2% das mulheres e 69,8% dos homens se sentem insatisfeitos com o excesso de peso – mesmo que apenas 59,4% das mulheres e 65,8% dos homens de fato apresentarem sobrepeso ou obesidade. Veja que a diferença entre a percepção corporal e a realidade é maior para mulheres do que para homens. Mais abaixo voltarei a falar sobre isso.
85,2% das brasileira adultas se sentem insatisfeitas com excesso de peso, porém apenas 59,4% delas têm sobrepeso ou obesidade
A quebra da patente no Brasil promete reduzir significativamente o preço destes tratamentos. Como as drogas GLP-1 podem afetar o mercado de alimentos brasileiro?
É inegável o impacto dos antagonistas de GLP-1 na indústria de alimentos americana. Um mercado que dependia de pessoas que não conseguiam parar de comer se deparou com uma mudança brusca de comportamento alimentar: 7 milhões de pessoas agora perderam o apetite.
A resposta ao Ozempic não se resume apenas à redução do consumo: os estudos realizados com pessoas que já usaram a droga ou que estão usando no momento mostram que há uma alteração no padrão de consumo, e que esta alteração pode se manter após o tratamento. Quais produtos saem da lista? Alimentos processados. Quais entram? Alimentos frescos e ácidos.
Um estudo acompanhou 22.712 domicílios americanos que tiveram ao menos 1 pessoas iniciando o uso de medicamentos GLP-1 entre janeiro de 2023 e julho de 2024 – e mediu suas compras de alimentos em diferentes canais (dentro e fora de casa) entre julho de 2022 (antes do início do uso) e setembro de 2024. Ele demonstrou que o impacto do uso de GLP-1 no consumo de alimentos se estende a todas as pessoas que moram numa mesma casa, mesmo que apenas uma delas esteja fazendo o tratamento. Os gastos domésticos caíram em média 5,5% dentro dos 6 primeiros meses de uso, sendo que as famílias de maior renda reduziram seu consumo em 8,6%. Snacks salgados foram os itens com maior redução de consumo: 11%.
A linha final: as pesquisadoras da Universidade de Cornell estimam em USD 416 a redução de gastos anuais por usuário de GLP-1. Se 7 milhões de americanos hoje usam a droga, estamos falando de uma redução de compra de alimentos da ordem de 2,912 bilhões de dólares (algo como 0,3% do mercado total de alimentos no país). Se a predição do J P Morgan Research estiver correta (30 milhões de americanos usando algum tipo de droga GLP-1 em 2030) estamos falando de uma redução de gastos de 12,4 bilhões de dólares nos domicílios americanos.
A alteração do padrão de consumo, com redução seletiva, também foi observada em outro estudo, realizado por pesquisadoras da Universidade de Arkansas e da Universidade Estadual de Oklahoma. Esta pesquisa, com 1955 participantes, comparou o perfil de consumo de pessoas que já usaram ou estavam usando algum medicamento GLP-1, com aquelas que pretendiam ou não usar.
É facil perceber que uma possível ameaça à indústria de alimentos é setorizada – com diferentes graus de redução de consumo conforme as categorias.
Uma análise recente da EY projeta uma adoção entre 13% a 21% por adultos americanos em 2034 – o que significa que 30 a 50 milhões de pessoas estará usando algum tipo de agonista do GLP-1. Segundo a consultoria, a adoção destes medicamentos pode afetar em até 12 bilhões de dólares o crescimento do mercado de snacks.
Um dos efeitos imediatos? Uma paralisação dos lançamentos de produtos inovadores. Mais precisamente, o nível mais baixo de lançamentos globais de alimentos e bebidas genuinamente novos desde 1996, segundo a Mintel. A indústria de alimentos ficou tonta e precisou recuperar o fôlego.
A segunda onda de reação da indústria de alimentos tem sido o lançamento de produtos que buscam apoiar a jornada das pessoas que usam a droga, cujos efeitos colaterais não se restringem à perda de apetite:
A YouTheory desenvolveu 3 produtos suplementos junto com um especialista renomado em obesidade: suplemento proteico, multivitamínico e suporte intestinal.
Diversas empresas vêm desenvolvendo produtos com probióticos, prebióticos e fibras para melhorar o equilíbrio da microbiota e reduzir desconfortos digestivos.
A Irwin Naturals se diferencia trazendo uma “alternativa mais natural à droga em si”. A empresa alega que o produto, quando consumido ao longo prazo, pode gerar resultados semelhantes às GLP-1.
(Participantes da nossa Cobertura de Inovação Expo West 2025 receberam estes insights em primeira mão, em tempo real, durante a Expo West 25.)
Em maio de 2024, a Nestlé anunciou o lançamento no final daquele ano de uma linha de alimentos congelados para pacientes em tratamento com medicamentes GLP-1. A Vital Pursuit traz uma linha de pratos prontos altos em proteína e com boa quantidade de fibras em porções reduzidas. É o primeiro lançamento de uma linha grande de produtos da empresa no mercado americano nos últimos 30 anos.
Já a Danone tomou outra rota: investiu em educação e comunicação do alinhamento do seu portfólio atual com as necessidades de quem está em tratamento.
A Conagra adicionou o claim “GLP-1 friendly” ao painel frontal de alguns produtos da linha Healthy Choice.
Coca-Cola e Mondelez, por sua vez, dizem estar monitorando o impacto do emprego das drogas GLP-1, que ainda consideram pequeno em seus negócios.
Antevendo o mercado de 2025 e buscando reduzir o uso indiscriminado e com fins estéticos dos antagonistas de GLP-1, em 16 de abril de 2025 a Anvisa aprovou um controle mais rigoroso na sua prescrição e dispensação. A nova regra prevê uso de receita em 2 vias, que será retida na farmácia e durará apenas 90 dias.
Como as drogas GLP-1 estão penetrando e sendo aceitas no Brasil? Vamos tentar responder a esta pergunta pela lente cultural.
O símbolo máximo desta discussão em 2024 foi a cantora Maiara – que chegou a afirmar que estava pesando 45kg (tendo perdido 35kg). Parte de uma das duplas mais adorada do feminejo brasileiro, a cantora alega que seus resultados vêm de um foco na alimentação saudável e exercícios.
A perda de peso abrupta causada pelo Ozempic e afins causa uma mudança na proporção corpo/cabeça. Um corpo “menor” passa a impressão de uma cabeça “maior”, o que é apenas uma percepção. A internet apelidou este efeito de “cabeça de ozempic” – um traço sarcástico do humor brasileiro que demonstra que, ao menos aqui, o emagrecimento não está acima de qualquer coisa (e não é o grande objetivo estético). O termo também é usado na gringa (ozempic head), mas o interesse dos brasileiros é muito maior, como nos mostra a comparação global entre os termos no Google Trends (“cabeça de ozempic” em azul, “ozempic head” em vermelho).
Custando até 2 mil reais por aplicação e sendo a promessa do emagrecimento que tanta gente busca, é meio que natural que o Ozempic e seus primos virassem objeto de desejo – e, desta forma, fossem motivo para furtos. Uma história de uma suposta babá demitida por justa causa por usar o Ozempic da empregadora rondou a internet em 2024 – mesmo sem comprovação. O que foi comprovado foi um furto de mais de R$60 mil em Ozempic e Wegovy, em abril/25, na zona sul da cidade de São Paulo.
Em uma declaração minimamente controversa, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, promete fornecer Ozempic nas Clínicas da Família até janeiro de 2026.
A NotCo, conhecida por desenvolver alimentos plant-based a partir de uma inteligência artificial proprietária, anunciou no Web Summit Rio que irá lançar um produto que estimule o corpo a produzir naturalmente o hormônio GLP-1. A promessa feita no palco é vaga sua data de lançamento está prevista para o final de 2025, após ensaios clínicos. Resta saber o que a Anvisa vai pensar sobre esta alegação.
Algumas das soluções encontradas pelas empresas americanas não serão possíveis no Brasil: vale reforçar que a ANVISA é muito mais rigorosa com alegações funcionais do que a sua parceira FDA, do berço do liberalismo econômico. Então, “amigável ao GLP-1” provavelmente não poderá ser usado por aqui – salvo que se encontre alguma ligação causal muito bem fundamentada entre a ingesta do seu alimento ou suplemento e os efeitos dos medicamentos GLP-1s.
A rota da reformulação tampouco me parece promissora. Se as pessoas estão lidando com a perda de apetite, ter mais ou menos gordura saturada não faz muita diferença.
O que eu vejo: refeições pequenas, produtos que reduzam a náusea e – claro – suplementos. Aliás, a indústria de suplementos pode tanto se esbaldar, quanto sofrer muito. Se as pessoas que se apoiaram nesta abordagem de emagrecimento virarem a chave para a via medicamentosa, a indústria de suplementos perde um importante segmento de atuação. Por outro lado, quem usa as canetinhas tende a ter acompanhamento médico e nutricional: duas importantes portas de entrada para esta mesma indústria. Quem viver, verá.
Uma linha de alimentos congelados de pequenas porções – focando nas proteínas fibras necessárias conter a perda muscular e garantir uma boa digestão.
Alimentos ácidos ajudam a controlar a náusea. Vegetais fermentados ácidos também apoiam a saúde intestinal, com a contribuição de fibras e bactérias ácido-láticas.
Um sistema produto-serviço focado nos indivíduos, que monitora continuamente seus marcadores de saúde, faz alertas para o usuário, encomenda canetas e direciona as dietas de acordo com o monitoramento realizado (fazendo compras de mantimentos diretamente no app).
Sim, mais suplementos proteicos – mas também muita fibra para lidar com a constipação. Quem consulta médicos e nutricionistas com regularidade pode começar a ingerir suplementações específicas para acompanhar o tratamento.
O que eu espero: que os negócios ajam com ética. A super-representação de corpos magros na mídia enviesa a percepção sobre os corpos das pessoas ao redor, estimulando a vergonha do corpo e sintomas depressivos. Estimular compulsões por corpos não naturalmente magros causam impactos devastadores, especialmente entre adolescentes e mulheres. Por exemplo, já sabemos que discursos negativos sobre o corpo têm relação com desordens alimentares. Nossa autopercepção é sempre influenciada fortemente pelo mundo ao nosso redor – quanto mais pessoas vemos usando medicamentos para emagrecimento, mais pensamos que todos usam. Mesmo que estes usuários não sejam a maioria.
A Liv Up firmou uma parceria com a Novo Nordisk para ser indicada pelo seu programa de relacionamento com pacientes Ozempic: o NovoDia. O programa também oferece descontos em farmácias, spas, consultas com psicólogos, orientações nutricionais, entre outros.
A Florien Fitoativo posiciona seu suplemento Akkermat para “evitar o efeito reganho de peso após o fim do uso das canetinhas”. Em maio/25, lançou o produto Biomansia, que “aumenta a produção de GLP-1 pelas células L intestinais”.
A Rousselot lançou uma linha de peptídeos de colágeno focados na complementação do uso dos medicamentos GLP-1 e no estímulo da produção natural de GLP-1 pelo corpo, para controle dos picos glicêmicos após refeições.
Inovar com impacto envolve capturar os sinais do ambiente externos, fazer uma construção própria de sentido e significado, e formular sistemas de solução de problemas que combinem produtos, serviços, comunicação e pessoas. Se a sociedade está debatendo os medicamentos GLP-1, ela afeta a sua empresa: mesmo que vocês vendam água. Como vocês podem interpretar estes sinais criativamente?
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