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Para ler escutando:
Uma aposta que muitas empresas fazem na área de alimentos é fincar o pé na sua região: usando ingredientes e métodos de produção locais, empresas de alimentos no mundo todo se diferenciam levando os hábitos alimentares locais para um público mais abrangente.
Podemos citar inúmeros exemplos na Europa, desde os mais famosos e copiados no mundo todo em produtos “tipo” (como queijo parmegiano-regiano, vinagre balsâmico, champagne, stroopwaffle) até produtos de oferta bem mais restrita, como o licor de sabugueiro, queijos não pasteurizados de cabra e haggis. Vindo da Tailândia, pla ra, o molho de peixe fermentado, fedorento e salgado, está presente em muitas cozinhas (inclusive na minha). O Canadá nos dá o maple syrup (xarope de bordo). Da China, temos o molho de ostra, do Japão os diversos curries prontos e acredito os visionários já bebericaram um sul-africano licor de marula.
O que todos estes alimentos têm em comum? Eles se baseiam na culinária local e na biodiversidade para alimentação e agricultura de uma determinada região. Ao invés de importar produtos que são produzidos em outros mercados (olha as febres das paleterias e hamburguerias gourmet aí), estas empresas estão olhando para dentro da sua própria cultura e região para inovarem.
E no Brasil, quem está fazendo esta aposta também?
Vamos conhecer 7 empresas e seu fundadores que estão levando a nossa biodiversidade para a mesa – e mostrando ao Brasil (e ao mundo) o que o Brasil tem.
O que fabrica: geleias, temperos, farinhas e grãos da cultura alimentar amazônica
Número de funcionários: 15
Região: Norte
Direto de Belém do Pará, desde 2014 a Manioca Brasil procura levar os ingredientes e cultura alimentar amazônica para um mercado mais abrangente. A fundadora Joanna Martins nos conta que sua relação com a gastronomia amazônica vem de uma história muito pessoal. Refletindo uma cultura gastronômica que está de costas para o próprio país e que valoriza apenas o que vem de fora, Belém também não tinha nenhum restaurante de comida local até que o primeiro foi aberto por sua avó, nos anos 70. O pai Paulo Martins seguiu o rumo e se tornou um divulgador internacional desta cozinha entre o final da década de 90 e início de 2000.
“Trabalhar com esses sabores foi um caminho natural pra mim, pois cresci nesse meio”, conta a empreendedora, que já realizou exportações pontuais para França e EUA, e se prepara para lançar um produto exclusivo para os EUA.
Enquanto a maioria dos ingredientes já estão disponíveis na agricultura familiar, pequenas e médias indústrias, alguns, como o cumaru, ainda são fruto do extrativismo. Para manter a viabilidade e sustentabilidade do projeto, a empresa mantém o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, através de que monitora e desenvolve 14 fornecedores da agricultura familiar e povos tradicionais, com capacitações e orientações técnicas em diversas áreas.
Planos futuros? Lançar ainda este ano duas novas linhas que já estão em desenvolvimento – Molhos e Snacks. E eles ainda guardam uma surpresa para quem ficar antenado:
“Estamos trabalhando também no desenvolvimento de um processo muito inovador e interessante num dos produtos mais tradicionais da cozinha amazônica, que em breve deve impactar o mercado de produtos brasileiros.”
Voa alto, Manioca!
O que fabrica: produtos à base de jabuticaba (molho, cobertura, cachaça, licor, geleia, mostarda, cerveja)
Número de funcionários: 6
Região: Sudeste
Felicidade é chupar jabuticaba no pé, disse Paulo Gaudêncio. Da terra da jabuticaba, Sabará (MG), a Sabarabuçu aposta no fruto rico em flavonoides para compor a sua linha de produtos: “somos da terra da Jabuticaba, escolhemos esse fruto maravilhoso para ser o nosso protagonista”.
Os fundadores, Meire Ribeiro e Geilson Dantas, contam que fazem um trabalho de capacitação com 35 famílias produtoras para garantir mais de uma safra por ano. A empresa, que inaugura uma nova unidade de produção este ano, já foi sondada por compradores de Portugal e Reino Unido, porém ainda não exportou.
Até o final do ano, a empresa nos promete novas receitas com a jabuticaba, que é nativa da Mata Atlântica e cujo nome vem do tupi: jabuti + caba (casa) – o lugar onde se encontra o jabuti.
O que fabrica: cachaça e licor com jambu
Número de funcionários: 3
Região: Norte
De Belém do Pará para o Brasil: há 5 anos a Trevi leva a cachaça com jambu, planta típica do tucupi, que traz uma sensação de dormência na boca. O fundador, Leandro Augusto Alves Marques, conta que passava suas férias de infância em Santarém Novo, no nordeste do Pará, onde tinha uma verdadeira aula de comidas típicas regionais: “casa de farinha, matança do porco, capturar o carangueijo no mangal, pescar siri e peixe, plantações de jambu, macaxeira, mandioca, abacaxi, e as demais hortaliças de nossa região”.
A empresa, que trabalha com a agricultura familiar, pretende começar a exportar a partir do 2° semestre de 2019. Também está nos planos lançar comercialmente a cerveja com jambu que já fabricam artesanalmente.
Aguardamos esta delícia!
O que fabrica: cervejas artesanais
Número de funcionários: 50
Região: Sul
No sul do país, mais precisamente Lauro Müller, que fica aos pés da Serra do Rio do Rastro, está a Lohn Bier – empresa que “acredita na criação de uma identidade autêntica brasileira para as nossas cervejas, que auxilie no desenvolvimento e visibilidade do mercado cervejeiro brasileiro tanto dentro, quanto fora do país.”
Esta identidade única é muito marcante na linha Catharina Sour, que emprega as seguintes frutas:
Além destas, há cumaru (a baunilha brasileira) na cerveja Carvoeira e sal extraído da salicórnia (planta naturalmente salgada) na Gose.
A empresa mantém ações para reduzir o impacto ambiental de suas atividades, como o uso do malte cozido para ração animal, coleta seletiva de lixo, transformação das sacas de malte em sacolas criativas, emprego da terra diatomácea em processo cerâmico e redução do uso de plásticos pelos funcionários.
Para os próximos meses, a empresa trará a linha sazonal de inverno, Trippel, Quadruppel e Barley Wine. Já exportaram para o Paraguai, Panamá, Portugal e EUA.
O que fabrica: óleos, farinhas, farelos, amêndoas e biomassa derivados da macaúba
Número de funcionários: 40
Região: Sudeste
A macaúba é a estrela do show da Soleá Brasil, que produz derivados da palmeira nativa brasileira em João Pinheiro, MG. Ela produz até 18 vezes mais óleo vegetal que a soja por hectare. De sua castanha são extraídos dois óleos vegetais (láurico e oleico), três tipos de farinhas proteicas e três biomassas.
A espécie é utilizada para recuperação de áreas degradadas, pela grande adaptabilidade e baixa demanda hídrica, podendo ser plantada em conjunto com outras culturas e pecuária – garantindo renda extra para o agricultor. “Conhecemos a Macaúba, espécie nativa brasileira, em 2009. A variedade e versatilidade dos produtos obtidos a partir do processamento de seus frutos é fantástica e nos chamou muito a atenção”, conta o fundador e CEO da empresa, Felipe Morbi.
A empresa, que possui 900 hectares de cultivo próprio, ainda não exporta, mas enxerga os mercados asiático e europeu como os mais promissores. Como tampouco consegue atender a demanda nacional, está em fase de expansão da capacidade produtiva.
Para 2019, podemos esperar o lançamento de dois ingredientes para cereais matinais e barras de proteínas ou cereais. Em 2020, a empresa pretende entrar no mercado de ingredientes para chocolates e panificação.
O que fabrica: Polpas e doces de frutas
Número de funcionários: 7
Região: Sul
Conheci a Sobucki, de Sete de Setembro (RS), no pavilhão da agricultura familiar da Expointer 2018 – o pavilhão mais concorrido de todo o complexo e que apresentou um crescimento de 40% naquela edição. Um exemplo de como é envolvente e encantador para o público a diversidade de produtos e a proximidade com seus produtores, que estavam ali, à sua frente, explicando o que faziam e estimulando a degustação (e venda) dos produtos. Saímos carregados de sacolas.
A empresa, que trabalha com uvaia, gabirova, pitanga e butiá, entre outras frutas, tem “foco principal no mercado mais natural que usa a biodiversidade”.
Para os próximos meses, pretende adquirir novos equipamentos para reduzir o trabalho manual, implementar um site e lançar uma schmier 100% natural com mel substituindo o açúcar.
Para você que não sabe o que é schmier, fica o convite para visitar as próximas feiras da agricultura familiar: estas geleias cheias de fruta lhe aguardarão docemente.
O que fabrica: óleo, farinhas amilácea e proteica e biomassa de babaçu
Número de funcionários: 45
Região: Norte
Há 10 anos, a Okka Babaçu, marca de varejo da empresa Florestas Brasileiras, atua no mercado alimentício e cosmético com derivados do coco de babaçu, que era abundante e até então pouco explorado no país. Tem sede em Itapecuru-Mirim, Maranhão.
O babaçu é uma palmeira que cresce na fronteira entre o Cerrado e a Amazônia. Seu fruto é coletado num sistema de extrativismo produtivo que envolve 1600 famílias. Não existe plantio de babaçu, apenas a coleta do fruto que cai no chão.
Para viabilizar o negócio e tornar o acessível o uso dos ingredientes, a empresa conduziu pesquisas que apontaram que o fruto teria o potencial de “ser uma ‘superfood’, com capacidade nutricional e antioxidante com índices acima da grande maioria de outras espécies nativas do país”.
Apesar de ainda não exportar, a empresa mira nos mercados dos Estados Unidos e Inglaterra, enquanto busca fortalecer a presença nacional. Os próximos produtos no radar são uma farinha proteica para uso culinário, farinha amilácea extrusada para fabricação de shakes e outros produtos baseados no óleo para aplicação exclusiva cosmética.
Eu conheci o presidente da empresa, Alcides Brum, durante o Simpósio do Futuro da Alimentação organizado pelo Sebrae-RS em 2018, que gentilmente me cedeu uma amostra da farinha de babaçu para provar.
A FAO define a biodiversidade para alimentação e agricultura como o “subgrupo da biodiversidade que contribui de alguma forma para a agricultura e produção de alimentos”, e está em declínio no mundo todo. Nela estão inclusos:
Segundo o massivo relatório a respeito, publicado em 2019, a perda de estilos de vida tradicionais vem afetando a manutenção do conhecimento a respeito desta biodiversidade, o que podemos ver refletido na concentração cada vez maior do consumo em algumas espécies (e subutilização da vasta maioria das espécies comestíveis). Das 6000 espécies de plantas que já foram cultivadas para a alimentação, apenas 200 têm produção relevantes e 9 representaram 66% da produção de 2014. 24% das espécies alimentícias selvagens têm sua abundância diminuída, enquanto que o status da grande maioria (60%) é desconhecido.
A indústria de alimentos é citada como um dos drivers que impulsionam a redução da biodiversidade, uma vez que é beneficiada por um incentivo à massificação do consumo e padronização das dietas. As empresas citadas neste artigo vão na contramão desta massificação, ampliando o leque de opções de consumo e reduzindo a concentração ao redor de apenas algumas espécies.
O Brasil participa da iniciativa para Biodiversidade para Alimentos e Nutrição. Uma das saídas da iniciativa é a lista de mais de 100 espécies brasileiras comestíveis prioritárias: uma superfonte de inspiração para quem deseja inovar usando a biodiversidade local!
Olhando em mais detalhe para a biodiversidade vegetal, o projeto Plantas para o Futuro traz ebooks detalhados, com informações da flora com valor econômico das regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste.
Adivinha o que está lá na região Sul?
O maravilhoso butiá!
Também foram contatadas para a matéria a Cervejaria Colombina, Cervejaria Wälls, Chocolates Nakau, Dom Amazoon, Concepta Ingredientes.
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