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COZINHEIROS DO BEM: NEM PERDÃO SE PEDE COM FOME

Postado em 22/01/2020 por Cristina Leonhardt
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Em Porto Alegre, embaixo do Viaduto da Conceição, se reúnem uma vez por semana os Cozinheiros do Bem – Food Fighters: Associação Comunitária Social que hoje é o maior coletivo de apoio à crescente população de rua no Brasil. A ação, que começou em 2015, conta com cerca de 300 voluntários e entrega 15 ton de comida toda a semana na Capital Gaúcha. Já foram mais de 1 milhão de marmitas entregues.
Eu comecei a observar o trabalho do grupo logo que lancei a Sra Inovadeira – ambos nasceram no mesmo ano. É inegável que 2015 era um ano de virada para muita gente: o Brasil amargava uma das piores crises da sua história recente, havia milhões de desempregados (eu, inclusa) e a população de rua só fazia crescer.

O Cozinheiros do Bem me atraiu desde o início. Este coletivo, que ajudava milhares de pessoas todas as semanas, sob um dos Viadutos por que eu mais havia passado enquanto fazia faculdade, usava a comida como meio. A comida como meio de socialização, como ponte, como redenção. A comida para matar a fome, porque a fome é perversa, a comida para curar a solidão e o abandono.
Inspirada no Cozinheiros do Bem, a Tacta chegou a fazer uma ação entre alunos em Lajeado. Arrecadamos 80 kg de comida. Infelizmente, por outras bandas, ainda não tivemos sucesso. Mas eu sigo entendendo que nós, visionários de alimentos, temos uma responsabilidade social singular como produtores de alimentos.

Para nos lembrar desta responsabilidade, este ano convidei o Julio Ritta, criador e líder do Cozinheiros do Bem, para palestrar no Horizonte 20 Food. Antes, porém, quis entender como ele e o palco se davam – vi a sua palestra no TEDx Laçador de 2018.
Chorei.
Nesta entrevista, ele nos conta da sua relação com a comida, com o coletivo e com a transformação.
 

Com a palavra, Julio Ritta:

 
O Cozinheiros do Bem – Food Fighters surgiu de uma necessidade gritante. Pra quem trampa com alimento e entende que com 1/4 do alimento que vai para o lixo daria para acabar com a fome no planeta, fica meio que impossível não fazer nada. Na época eu estava participando de um reality show (Julio fez parte da edição 2015 do programa Hell’s Kitchen do SBT e TLC Brasil) e vi ali a oportunidade de fazer em maior escala o trabalho de formiguinha que já fazia. Quando tu bota a mão em algo tão forte, o universo conspira a favor.
Para a população de rua, a comida tem papel central: O alimento é a base, ninguém tem força pra levantar-se da sarjeta de barriga vazia, nem perdão se pede com fome!
 

Como fazer funcionar

O coletivo ajuda de aldeias indígenas a vulneráveis nos viadutos. Porém os números no gráfico são apenas números, estamos falando de pessoas como nós que vivem à margem e invisíveis ao poder público. Para dar conta deste atendimento, o Cozinheiros conta com doações, organiza vaquinhas, vende camisetas e bottons, e recebe a ajuda de empresas como Charlie Brownie, Ciao pizzaria, Brizza pizzaria, Alibem alimentos, Marsalla Alimentos, Rede Unisuper. Para Julio, estes são exemplos de gente de bem que entende o compromisso de vender e lidar com o alimento.

Os voluntários, que se reúnem toda a semana para cozinhar, têm perfil variado. Temos de faxineiro a juiz. Na real, é um comparativo bizarro pois aqui somos todos iguais. Pra participar é só adquirir a camiseta e cair pra dentro.
Julio trabalha com zelo pelo projeto, preocupando-se que ele seja completamente inclusivo. Não há distinções: quem entrar na fila, leva um prato de comida. Se entrar mais de uma vez, leva mais de um – cada um sabe o tamanho da sua fome. O Júlio é mais uma formiguinha, mas a formiga grande e chata que tem que ter esse papel de zelar pra que nenhum político ou fanático religioso tente tirar proveito.
 

Sobre transformação

Não tem como não ser transformado por um projeto assim. Perguntei a Julio qual havia sido o impacto do projeto na sua vida pessoal:
Fazemos filantropia e filantropia significa amar a humanidade. Quem ama a humanidade não tem tempo nem vocação pra tristeza. Minha vida é do carai… O projeto me fez entender literalmente que somos singulares no plural e que para vivermos em harmonia precisamos entender a massa como 1. Eu hoje não me entendo como único. Penso sempre que alguém por perto pode precisar de mim e que eu posso fazer algo por essa pessoa. Me sinto completo e hoje entendo meu papel na sociedade.

Vivo uma palavra africana que significa “sou quem sou porque somos todos nós”: Ubuntu. Ubuntu não é religião, Ubuntu é uma consciência de espírito coletivo. Pra fazer o bem não precisa ser santo, precisa entender que em 2020 anos de um calendário egoísta plantamos guerra e discórdia. Países hoje se bombardeiam enquanto a Austrália queima. Tá tudo errado e tá na hora da ficha cair. No micro tô fazendo a minha parte, porém, se o macro entender isso tudo valerá a pena e é por isso que viajo mundo a fora e propago nas redes a nossa luta diária!
Ubuntu surgiu depois da primeira ação do coletivo. Julio foi tocado pelo conceito após ver uma entrevista de Nelson Mandela em que ele grita: UBUNTU!

Julio termina a entrevista deixando uma mensagem para todo mundo que trabalha produzindo alimentos:
Reflitam sobre a fome, jejuar ajuda. Não de maneira religiosa, mas pra se colocar no lugar de milhões de vulneráveis que passam e morrem de fome diariamente nesse mundão.
 
Julio está fazendo a sua microrrevolução – assim como o pessoal da Gastroterapia. Ambos os projetos nos lembram do poder da indignação e da atitude, da vontade de fazer, de colocar a mão na massa. O Cozinheiros do Bem começou com pouca gente, embaixo de um Viaduto, sob chuva. E hoje impacta a vida de milhares de pessoas.

Atitude rock’n’roll, cara de poucos amigos, cabelo pintado de rosa, Julio é um cara grande que assusta à primeira impressão. Já sou manjada de tipos assim: aquela casca grossa que esconde um coração gigante. Tem que ter muita casca mesmo para olhar a pobreza e a fome na cara e fazer algo a respeito.
 
Quem quiser fazer parte do Cozinheiros do Bem – Food Fighters, contribuindo de qualquer forma, pode entrar em contato através dos telefones (51) 99853-2190 ou (51) 98438-0325.



Julio palestra na edição São Paulo do Horizonte 20 Food. Vem ser impactado por esta história incrível nos dias 30 e 31/01 em São Paulo.
As inscrições para Recife já estão abertas e você pode se inscrever clicando aqui.

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